Ele tinha uma cachorra alcoólatra, e nunca soube seu nome. De tão bêbada só gemia e soltava um latido fino que indicava constante ressaca. Entendia muito de cinema, e sua principal atração era os filmes expressionistas alemães. Perdeu a virgindade com apenas oito anos. Uma cadela vira-lata, jogada no sofá vendo televisão. Tinha que tomar cuidado para não escorregar nas garrafas que ela deixava jogadas pelo chão. Eu era um escritor, ninguém nunca lera o que escrevi. Nem nunca publiquei. A única pessoa que conhecia era a cachorra para quem eu lia os contos em voz alta. Ela nunca deu uma opinião formada. Mas acho que se continua jogada do meu lado enquanto escrevo, ao menos não é insuportável. Às vezes quando as idéias não viam discutíamos literatura, cinema e coisas que os universitários de comunicação fazem para fingirem que possuem algum conteúdo. Ela, por ser uma cachorra, não podia fazer curso superior. Mas lia tudo que podia, e entenda muito mais de antropologia que qualquer professor que já tive.
Um dia cheguei em casa, e a cachorra estava deitada de barriga para cima, com os olhos muito vermelhos de tanto chorar. O telefone estava fora do gancho. Peguei-o para escutar quem estava do outro lado. Estava em algum tipo atendimento de apoio para alcoólatras. Ela queria ir para o AA, e queria fazer um documentário sobre isso. Seria um sucesso o documentário sobre a cachorra cineasta alcoólatra tentando abandonar a bebida. Uma inspiração para todos os outros caninos viciados.
“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””
Tuesday, May 29, 2007
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