“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””

Monday, December 26, 2005

Torresmo feliz

Existe um fenômeno relacionado a pessoas pegando fogo do nada. Combustão humana espontânea. Ninguém até hoje sabe os motivos que levam esse punhado de gente a simplesmente virar torresmo de uma hora para a outra. Vamos fazer assim: os cientistas descobrem o dia e a hora exatos em que seu corpo ira queimar em chamas até sobrar apenas os pés logo num exame de sangue feito ao nascer. Sobram os pés? Marcos sabe que no dia 23 de junho de 2007 às 3 horas da tarde, quando ele tiver seus 23 anos, ira virar torresmo. Claro, não é nem um pouco consolador saber quando você vai morrer, mas pelo menos lhe diz o quando você pode aproveitar da vida. Um fator interessante é que às vitimas da combustão humana espontânea geralmente morrerem por problemas de colesterol, doenças venéreas e acidentes em esportes radicais.

(Samuel Gois Martins) 26/12/2005

Sunday, December 11, 2005

Tensão de elevador

Tateou o bolso direito certificando que não esquecera nada. Sua mão nervosa aliviava-se no ritmo do pensamento “está aqui, aqui”. Dentro do elevador estava ele, a velha do oitavo andar e uma adorável adolescente de lindo decote indo ver sua amiguinha do quinto andar. O elevador marcava segundo andar.
A jovem não esperava à hora de ver sua amiguinha. Desde aquela festa não para de pensar nela. Antes se sentia incomodada, envergonhada. Mas foi tão bom. Algo que homem nenhum realizou. Ela quer mais. Falta tão pouco, tão pouco. Chega logo elevador. Chega!
A velha reconhece o bonitão da ultima vez. A forma como sempre tateia os bolsos é uma graça. Fica imaginando aquelas mãos nervosas fazendo coisas indecorosas. Do jeito que ela adora. Ela adoraria mostrar sua coleção sadomasoquista. Ele aprenderia a amar aqueles seios caídos e branquelos. Nem que sangrasse para isso.
O elevador para no quinto e a garota parece da um suspiro de alegria contagiante que vem do fundo da alma.
- Que menina mal educada. Nem da boa tarde ao sair do elevador -, rosna a velha.
Ele não responde. Ele tateia novamente o bolso. “Está aqui. Aqui!”.
A velha não fica ressentida com a falta de resposta. Ela gosta deles caladinhos. Caladinhos sentindo dor.
O elevador chega ao oitavo, a velha da uma piscadela para ele e sai empinando sua bunda cheia de estrias. Ele engole seco e limpa o suor da testa. As portas do elevador se fecham. Rapidamente ele aperta no botão onze. Não é apenas suor que sai, ele começa a chorar, primeiro lagrimas escapando e depois berros que até a garotinha adorável que entrou no quinto andar escutaria se não estivesse gemendo tanto junto de sua amiguinha.
A porta abre. Apenas um apartamento por andar. Ele bate três vezes na porta, toc toc toc. Ninguém responde por aproximadamente quarenta segundos. Ele bate na porta mais duas vezes, toc toc.
- Já vai!
Ele põe a mão no bolso. Está lá. Graças a Deus!
- É você Renatinho. Como está? Por que essa cara inchada? Parece pior do que quando saiu daqui na ultima vez.
Ele aperta forte o objeto dentro de seu bolso, certo que estava lá de verdade. Ele nunca imaginou que pudesse fazer isso. Ela é tão jovem. Ele se sente um monstro. Mas não ponde controlar. Não pode segurar. Sacou rapidamente e apontou para face da mulher.
- Ca-ca-ca-s-ca-cas-case-se comigo!
- Renatinho! Que anel lindo!

(Samuel Gois Martins) 11/12/05

Tuesday, November 29, 2005

Água sanitária

pés feridos - cacos de vidro - vermelho - dor - lagrimas - água sanitária

corre até o banheiro - tenta entender o que esta acontecendo - grita - chora

água sanitária

sangue

grito

choro

corre até o telefone – 3 – 3 – 4 – 6 – não – 33478801 – alô? – socorro – por favor – socorro

dor

olhos fechados

lagrimas ardendo

ferida ardendo

água sanitária

(Samuel Gois Martins) 29/11/2005

Thursday, November 10, 2005

Porta-Treco

O porta-treco cai no chão. Todos direcionam sua atenção para ele. O som de um recém-nascido chorando propaga-se no fundo. Foi assim que eu nasci. Com todos olhando para o porta-treco.
Certa época, tive 5 anos, mas não tive nenhum amigo. No meu quarto o porta-treco guardava alguns brinquedos: o boneco sem capa do super-homem, peças perdidas de um quebra-cabeça, pinos e dados de um Banco Imobiliário inutilizado. O dinheiro de mentirinha eu escondia na cama, debaixo da colcha. Olhava para aquela fortuna e pensava “estou rico!”.
Aos 12 anos descobri a Playboy. Foi amor à primeira vista. Escondia minha única e preciosa no porta-treco. Engraçado, sempre o abria imaginando lembrar de alguma pista. Só não sei o quê.
No 16 o papel com suas imagens foi trocado por células. Garotas de verdade. Uma garota na verdade. Ela era linda. E fazia tudo que eu pedia. Do jeito que eu pedia. Guardava as camisinhas em um porta-treco velho que sempre esteve em meu quarto. De todas as cores e sabores possíveis. Nessa época tive muitos amigos. Um me apresentou o álcool. Outro o cigarro. Ela dizia que acido era bom, mas nunca tive saco pra tomar comprimidos.
Um dia, com 32 anos, recebi uma ligação incomum:
- Sua mãe faleceu.
Eu trabalhava vendendo carros. Tinha todos os amigos e mulheres que poderia comprar. Passei alguns minutos tentando entender aquelas 3 palavras.Sua. Mãe. Faleceu.Procurei no dicionário por algum sentido. Do outro lado estavam confusos perguntando por “Alô?” e “Você está bem?”.
- Morta?
- Isso. O velório será amanhã.
- Ok.
Com 32 anos, dois meses, 3 dias e 4 horas cheguei à velha casa após uma viagem noturna. Claro que lembrei de justificar minha falta no trabalho e cancelei um encontro com uma acompanhante de luxo. Também lembrei de tomar um longo banho gelado, fazer a barba e escovar bem os dentes. Lá estava eu na frente da velha casa. Meu pai me abraçou chorando, minha irmã, minha tia, minha avó.
- Do que ela morreu?
- Caiu da escada.
- Quero entrar.
- Seu quarto esta como você o havia deixado.
Meu lábios moveram grunhidos disfarçados de palavra. Só não sei o quê. Eu nunca sei de nada.
Subi a escada assassina a encarado cada degrau. Queria vencê-la, como uma vingança. Fique visualizando como deveria ter sido. Entre no corredor. A segunda porta a esquerda, semi-aberta. Ou semi-fechada. O porta-treco estava no móvel de sempre. Não encontrei minhas camisinhas. Lá estava o super-homem, as peças de quebra cabeças, os pinos e dados.
Pintos e dados de um Banco Imobiliário inutilizado.
Fui até a cama com agilidade, puxei o colchão com um único esforço. Caíram lagrimas.
- Estou rico.

(Samuel Góis Martins) 10/11/05

Friday, November 04, 2005

Madeira norueguesa

- Pode sentar em qualquer lugar...

Um ou outro dia qualquer conheci alguém que me convidou para sentar. Mas em seu quarto não existiam cadeiras. Falou para sentar em qualquer lugar. Esse alguém era uma garota que eu tive. Melhor dizer que ela me teve.
Já falei que em seu quarto não havia cadeiras, então me sentei sobre o tapete. Eu ofereci minhas horas e minutos. Ela me ofereceu do seu vinho.
Era um belo quarto feito com madeira norueguesa.
- Hora de dormir...
Conversamos até as duas horas.
- Fui trabalhar cedo... Hehehe!
- Eu não. – e me arrastei até o banheiro. Para dormir dentro da banheira.

Quando acordei estava sozinho. O pássaro tinha voado. Acendi um cigarro, pensando como era boa a madeira norueguesa daquele quarto.

(Samuel Gois Martins) 4/11/2005

*versão romanceada da musica Norwegian Wood dos Beatles. Não sou fã deles, essa musica é o nome de um livro que me tocou profundamente. Então procurei pela letra. Acredito que ela tenha vários sentidos metafóricos que acarretam outros conceitos que escolhi não abordar. Não mais, acho que fico bonito.

Thursday, November 03, 2005

O código da vinci e as tartarugas ninjas

O garoto Maroto percorre correndo uma longa estrada sem fim que vai sem vírgula alguma em direção a sua casa onde existe uma casa de cachorro mágica que leva ao mundo encantado dos cachorros voadores.
Sua mãe varre o chão, calmamente, delicadamente, com um sorriso gentil, meigo, bonito. Lento. Va-ga-ro-as-men-te. Antes que pudesse mover mais uma vez a vassoura tomou posição para deter seu filho de qualquer proeza espalhafatosa. Seria isso possível?
- Parado... Ai... Mocinho...
Tarde demais. Ela pensou na ultima vez que ele fez aquilo. Cachorros voadores sujam demais!

Em outro ligar na falta de imaginação do autor tem um sujeitinho esquisito reproduzindo as obras artísticas de Leonardo da Vinci. Nada haver com o livro código da Vinci. Nem com as tartarugas ninjas. Ele escutou alguma coisa caindo sobre suas tintas e telas, destruindo tudo. Sujando tudo.
- Mas que porra?!
E olhem, era o garoto maroto todo azul, amarelo, vermelho e solvente.
- Não era para eu estar no mundo encantado dos cachorros voadores?
- O autor mudou idéia antes de você chegar lá. Deve ta jogando um monte de besteiras pra no mínimo se sentir original.
- Que babaca.
- Concordo.
E de repente uma estrada de tijolos amarelos.
- Desde quando isso ta por aqui? – assustou-se o pintor esquisito davinciano.
- Esses tijolos são ouro?
- Será que alguém reclamaria se pegássemos para nós?
- Olha, se isso ta virando referencia de O Mágico de OZ, deixa eu ver se cai encima de alguém...
E lá um par de pernas com sapatos homossexuais esquisitos debaixo da tralha de telas e tintas onde o garoto Maroto havia caído.
- Escritor de merda...
- Pega os sapatos. São mágicos!
- Já peguei. “Não há lugar como o nosso lar”, em?
- É o que dizem.
E viveram felizes para sempre com um castelo feito de tijolos de ouro roubados da estrada e sapatos mágicos cobiçados. Claro, isso até a mãe do garoto Maroto chegar por lá e puxa-lo pela orelha para fazer o dever de casa. O pintor esquisito decidiu escrever livros do tipo “alguma coisa o código da vinci”.

(Samuel Gois Martins) 3/11/2005

Thursday, October 27, 2005

Metáfora verdadeira e sincera

Quando estiver lendo isso quero que saiba bem que esse texto é apenas para você. Ei você, enxerido, pode ir embora. Nem pense. O texto não é para você ai não. Nem você. Xô xô xô. Podem fechar essa janela. Vou contar até três. Um. Dois. Três. Pronto? Bem... Acho que agora estamos a sós. Não é? Bem. Espero que você realmente saiba que esse texto é só para você. Sabe... Existe sim. Em primeiro lugar quero que saiba que existe. Não importam as provas do contrario. Continuo a crer que existe. Em todos os lugares, mas, em especial, no seu perfume. Não fui eu que cultivei o jardim. Ele já estava aqui quando cheguei. Mas pelo menos para mim a graça deste enorme adorno é o seu perfume. Sua cor. Sua beleza. Ali em um cantinho. Escolhi me sentar para proteger. Aguar com um regador sempre que ver que estas com sede. Às vezes bate uma fome ou um sono. Mas não vou fechar meus olhos. Quero que cresça e fique cada vez mais... Mais e mais. Estou feliz em estar aqui sentado. Escrevendo isso. O sol forte acompanha um céu azul limpo e belo. Mesmo assim acho que vai chover e vou com minhas mãos proteger das gotas fortes. Não quero mais sair daqui. Do seu lado. Você entende? Espero não está incomodando com a minha sombra...

(Samuel Gois Martins) 28/10/2005

Wednesday, October 26, 2005

Mais uma a respeito de alienígenas homossexuais e notas musicais

Foi caminhando por ai que o musico descobriu a nota que tanto procurava. Abaixou-se cuidadosamente. Fechou os olhos. Concentrou-se. Lá estava aquela nota. A nota perfeita. Com os olhos ainda fechados caminhou lento e cuidadosamente em direção da disposição sonora que havia descoberto.
- Opa ai rapa!
- Hein?
Batendo de cara com um alienígena, o musico ficou pasmo. “Onde estou”, ele pensou.
Pois não mais caminhando por ai ele estava. Ele estava caminhando por ali. Ali não é ai. Ali era...
- Onde estou?
- Um disco voador?
- Sério?!
- É né.
O alienígena era do tipo bem alienígena. Com pernas longas, pele acinzentada pálida, olhos grandes e negros. O musico já podia se imaginar dando entrevistas em documentários da Discovery.
- O que farão comigo?
- Sonda anal.
- Não mesmo!
- Não vai doer... É como exame de próstata!
- Nunca!
- Eu sou um alienígena. Milhares de centenas de anos luzes mais inteligente que você. O seu cérebro minúsculo nunca entenderia o intricado sistema universal para o qual essa sonda anal poderá contribuir.
- Você quer é me comer!
- Bem... Também. É que você é gatinho.
- Sou?
- É...
- Meu namorado nunca falou isso...
- Posso por a sonda anal ou não?
- Só se você der a nota que eu tanto procuro...
- Pra você eu dou qualquer coisa...

(Samuel Gois Martins) 26/10/2005

Thursday, October 20, 2005

Tentativas...

Hoje eu ia escrever sobre a mágica e fantástica fabrica de guardanapo que reciclava papel higiênico. Mas ocorreu-me algo muito mais interessante a relatar. Chega a ser quase meloso. Um tanto romântico. E de fato estupidamente fútil. Não são aquelas minhas tramas sobre princesas ninfomaníacas e seus sete anões da vida. É algo acarretado de beleza sutil e até algum sentimento vindo da parte do autor. A coisa mais ou menos se desenrola com a invasão do planeta terra pelo povo de Plutão. O povo de Plutão chama Plutão por um nome indecifrável, por isso usaremos o titulo criado por nossos astrônomos: Plutão, para facilitar as coisas. Então a branca de neve pisou na mão de dengoso com salto pontudo. Dengoso gemia de prazer... Opa. Trama errada. Vamos lá. Sei que posso escrever algo belo e sentimental. Nada é mais belo e sentimental que Plutão. O povo de Plutão. Voltando a eles: O povo de Plutão é formado por lindas amazonas de pele azulada e traço oriental. Sempre com roupas curtas e apertadas para exaltar seus... Corpos esculturais. Isso. Corpos esculturais que escravizavam os homens da Terra. Menos um. Isso. O nosso herói. O amor que ele sentia por sua amada era tão grande que nem os exuberantes sei... Corpos esculturais das amazonas azuladas orientais de Plutão dominavam o seu caráter inabalável. Isso sim era amor de verdade. Por que nem eu resistiria às amazonas azuladas orientais de enormes... Espaçonaves! E todo mundo adora espaçonaves! Não é mesmo? Claro que sim. Mas o nosso herói não. Na verdade ele pensava apenas na sua amada. Quer dizer. No seu amado. Sim, nosso herói é homossexual. Não que isso faça diferença, pois o poder das amazonas de Plutão era tamanho que ate os homossexuais teriam sido dominados. Nosso herói não convencional dominado por sua paixão incontrolável armou-se com todos os utensílios de sua loja de produtos eróticos. Ele ia matá-las de prazer e salvar o mundo. Meu deus! Que horror! Parece roteiro de filme pornográfico... Eu não consigo. Pelo visto. Vamos voltar para a mágica e fantástica fabrica de guardanapo...

(Samuel Gois Martins) 20/10/05

Saturday, October 15, 2005

Cagando asas

Forcei muito no banheiro. Prisão de ventre. Força. Força. Força. E depois alivio indescritível. Tendo finalmente me encostado para descanso senti algo diferente em minhas costas. Algo além de minhas costas roçava nos azulejos. Algo meu que nunca esteve ali.
Levantei-me para entender o que estava acontecendo. Mirando o espelho descobri que brotara asas em minhas costas. Meu Deus. Forcei tanto que nasceram asas. Eu poderia ter entrado em pânico. Afinal de contas aquilo era um atestado de aberração. Cagar asas? E tão lindas. Brancas e puras. Sentia-me um anjo. Um verdadeiro anjo. Apenas sorri e limpei a bunda.
Queria voar.

(Samuel de Gois Martins) 15/10/2005

Wednesday, October 12, 2005

A vida é uma merda

Aqueles dias cheios de merda. Merda para todo canto. Você pisa na merda. Você come merda. Você é a merda. Nesses dias escolhi abandonar toda minha respeitável vida social e roubar um banco.
- Mãos pra cima...
Eu tava falando serio.
Ela demonstra medo e nervosismo. Tremula esvazia todo o dinheiro do caixa. Lembrei que era melhor ficar tranqüila, pois ainda teria que abrir o cofre. A merda do cofre. A mulher mais linda que já vi na vida.
- Case-se comigo.
- Como assim?
- Assalto o banco, você me da seu telefone e começamos um relacionamento que cada vez mais vai se torna mais firme até atingirmos o ápice do casamento.
- Não vai me matar?
- Não mesmo. Faço isso apenas para relaxar. Todos temos algo sórdido para relaxar não é?
Ela parou por um momento para pensar. Logo em seguida seus olhos encontram os meus confirmando.
- Eu gosto de por gatinhos no liquidificador.
- Estou apaixonado por você!
- Aceito!
A vida é uma merda, mas sempre é possível tirar um lado positivo.

(Samuel Gois Martins) 13/10/2005

Monday, October 03, 2005

- Adeus Fulana. Adeus...

- Quero quatro copias desse aqui...
- Oi?
Noite. Trinta minutos para uma prova e só agora estava xerocando sua apostila. Tenho carta de pau pra essas coisas mesmo.
- Oi.
- Você estudou naquele colégio?
- Aquele?
- É. O segundo ano. Certo?
- Foi sim... Há. Formos colegas de classe.
- Isso mesmo.
O som da xérox trabalhando me tranqüiliza.
- Você lembra de fulana?
- Fulana?
- É. Que namorava com Ciclano.
- Ciclano?
- É. Que andava com Beltrano.
- Há... Beltrano... Ciclano... Fulana! Lembro sim. Boa pessoa. Como ela está?
- Cometeu suicídio.
- Hum...
- É...
- Suas copias, senhor.
- Obrigado. E qual foi o motivo?
- Rompeu com o noivo.
- Que coisa...
- Pois é...
- Suicídio só serve pra ferrar com quem ta vivo. Parece meio idiota falar isso...
- Mas é verdade. Bem, eu vou indo.
- Eu também. Tenho... Hã... Prova.
- Boa sorte.
- Obrigado.
Dez minutos para ler a apostila e aprender tudo que tem nela. Dez minutos.

(Samuel Gois Martins) 03/10/05

Friday, September 30, 2005

A Rainha Espacial

A Rainha espacial Durval correu até sua sala e gritou:
- Não se aproximem! Usarei a maquina dimensional para trocar os quartos e cometerei suicídio com uma ogiva nuclear!
Eu e meu companheiro de batalha nos retemos por alguns segundos. Alguns segundos para pegar fôlego e derrubar a porta.
Mas já era tarde. Apenas retalhos da outra versão dimensional da sala.
- Logo os reforços irão chegar – suspirou o fiel parceiro.
Acordando sufocado. Faço força e o catarro sai de minha narina esquerda. Viro meu corpo tentando desprender-me dos lençóis. Cuspo catarro. Um pouco de sangue sai junto. Apenas uma irritação – espero eu.
Cambaleando ate a cozinha pensando porque a maioria das minhas historias começam com um sujeito acordando. Bebo um copo de água gelado para piorar minha garganta. Cuspo mais catarro no chão. Olho pra janela.
- Bom dia... – Apreciando o catarro - Pesando bem foi o sonho mais ficção cientifica anos 70 que já tive na vida. Eu gostaria de ter uma maquina dimensional.
Volto à geladeira em busca do resto de pudim. Mas já comeram tudo.
- E talvez uma bomba nuclear.
Esperei o catarro responder alguma coisa por alguns minutos e fui ao banheiro tomar banho. Existia algo de muito triste na morte da rainha espacial.

30/09/2005

Wednesday, September 21, 2005

Perdido

Se você perde algo. Pode ter certeza que eu não sei onde está. Se você me perguntar. Contarei uma mentira a respeito de uma outra dimensão onde vivem felizes as coisas perdidas. Como nós. Acho que também estamos perdidos. Alguém nos procura em algum lugar. Em outra dimensão. Iria falar também que li isso em algum livro de física empoeirado e antigo, escondido nos recantos de uma biblioteca perdida há muitos anos atrás em um incêndio misterioso. Diria também que o incêndio foi provocado por extraterrestres que querem cuidar com que tudo continue bem perdido em seu devido lugar errado. Morrem de medo só de imaginar cada coisa no seu devido lugar. Com o seu devido dono. Eu também tenho medo. Pois adoraria escutar de alguém “estou perdido por você”. É uma coisa meio melosa de se falar. Mas é assim mesmo que as coisas costumam ser. E se perder.

21/09/05

Tuesday, September 20, 2005

Meio Incoerente

Foi meio que uma consolação isso que ela falou. Fiquei meio que indignado. Meio que triste. Meio. Inteiro não dava. Não sem ela.
Amassei a carta e joguei na primeira lata de lixo que encontrei na rua. O melhor mesmo é mandar se foder. Isso mesmo. Possível viver pela metade. Posso amar pela metade. Posso mentir pela metade. Posso odiar pela metade. Tudo em partes. Incompletas. Sem sentido algum. Posso fazer assim. Faço há 15 anos assim. Agüento o resto de minha vida.
Parado ai. Segurando um revolver. Revolver de verdade. Repito para mim. Pergunto.
É de verdade?
Tu é otário ou o quê? Passa a grana maluco!
O resto da minha vida.
Passo um caralho. Atira bem no peito se tu é homem!
Tu é doido é?!
- Você só tem meia chance de me acerar. E eu só tenho meia chance de morrer. Poder vir. Se eu tiver de morrer, que seja pela metade!
Na lata de lixo a carta tinha escrito guardarei um pouco de amor para você.

(Samuel Gois Martins) 20/09/2005

Wednesday, September 14, 2005

#$%

Vamos fazer gostoso. Um... Não, dois extraterrestres em meio a uma guerra intergaláctica chegam à conclusão que suas vidas estão por um fio. Não. Fio é uma coisa terráquea. Temos que inventar outra palavra. O que soa como um fio? Acho que nem letras humanas seriam usadas. Então vai ser #$% por questão de simbologia. A vida dos dois estava por um #$%:
- Sabe...
- Que horror! Centenas de espaçonaves destruídas! Corpos vagando como pequenos pedaços de carnificina tirando toda a beleza do solitário universo!
- Eu amo você.
- Hã?
- Sei que não é uma boa ocasião. Mas eu amo você.
- Não é uma boa ocasião? Estamos perdendo uma guerra! Estamos por um #$%! Milhares de gerações futuras dependiam da vitória!
- Não precisa ficar lembrando toda hora!
- E precisa?! Olhe só ao seu redor! O chão está coberto de fluido vital!
- Até que é bonitinho... Sabe... Cria um clima, tipo assim. Te amo gatinho.
- O que é gatinho?
- Coisa de terráqueo.
- Há.
- Deixa eu pegar no seu #$%.
- Que coisa obsena de se falar!
- Talvez posso ser a nossa ultima canse! Deixa-me pegar no seu #$%. Pega no meu #$%! Façamos! Vamos amar!
- Tudo bem. Mas quero que saiba que não sou Gay. É uma questão de desespero.
- Deixa disso que eu sei que você é. Uie, como o seu #$% ta tenso...
O universo como é lindo. Uma caixa de possibilidades enormes. Mas fio terra é fio terra em todo canto. Agora aquele bebê gigante de 2001...

(Samuel Gois Martins) 14/09/05

Sunday, September 04, 2005

Palavras em conspiração

O som da grafite barato trepando com o papel me doía nos ouvidos. Talvez fosse inveja por não trepar ainda. Pelo menos o produto era uma gozada só minha. Os contornos pouco estéticos de minhas letras delineando caminho para lugar algum. Lugar nenhum. Qualquer lugar. A letras chegam a sair do papel, manchar a minha escrivaninha verde, manchar o tempo, o espaço, a luz, e fugir por debaixo da porta. Fiquei só sentado, acompanhando, curioso para saber até onde iriam aquelas palavras. Rezando para que não fossem perigosas.
- Que horror!
Mas, como bem aprendemos na vida, rezar nunca foi a mais pratica e solúvel das opções em momentos como esse. O grito parte da cozinha, provavelmente minha mãe. Ou a garota com quem eu gostaria e ter relacionamentos carnais. E ate sentimentais. Mas ai já não seria real. Seria um fruto da imaginação. Algo que ainda vai se torna palavra. Das perigosas também, acredito-me.
Solto o lápis, pulo da escrivaninha, vôo pelo corredor tirando a camisa e revelando para fora o meu emblema de camisa barata do super-homem. Definitivamente se ele existisse seria um trabalho para o carinha. Também seria super legal se eu voasse de verdade. E se a menina gritando quisesse dar pra mim. Mas sequer tem uma menina na cozinha. Foi um engano metafórico de minha imaginação narrativa. As palavras conversam com as batatas. Tramam contra mim. Pobre de mim. Criado e comedor. Frustrada criatura de pouca sabedoria. As coisas não acabariam bem.
- Odeio batata frita – rosnou o critico e frio irmão mais novo. – E essas estão horríveis!
Pretas, com cheiro esquisito. É a grafite. É o meu gozo. Não tinha como sair gostosa. E ele nem gosta de batata frita.

(Samuel Gois Martins) 4/09/05

Friday, September 02, 2005

De quatro casos reais de qualquer parte do mundo

Caso 1 – Mete que eu enfio.
A garota se sentia traída. Afinal de contas seu amante decidiu de uma hora pra outra virar bi. E ela não se sentiria bem levando uma sabendo de alguém que leva também. Claro que existe a chance dele ser passivo. Mas se o namorado dela fica sabendo? Pode até imaginar o veado do namorando querendo comer o amante dela também. Tinha que descobrir se o cara metia ou levava. Era uma questão de honra. Honra anal. Isso mesmo.
Caso 2 – Religião exótica
A garota se sentia traída. Afinal de contas seu amante decidiu de uma hora para a outra aderir a aulas se sexo tantrico. Seja lá o que for isso deve ser bom e só ele tava provando. Insensível egoísta.
Caso 3 – Consciência política
A garota se sentia traída por que o namorado preferia fumar maconha. Ela insistia que uma picada era tudo de bom. Mas aquele merdinha naturalista só que saber fala sobre como os capitalistas estão prejudicando a natureza e que Marx sabia trepar bem.
Caso 4 – Doença pega
A garota se sentia traída por que seu namorado ficou com sua melhor amiga. Logo sua melhor amiga. Aquela que tem gonorréia. Nesse exato momento a garota esta sentada, puta da vida, cheia de vergonha, na fila do ginecologista. E se o pai dela fica sabendo? Pobre coitado que sofre do coração. Uma filha de 14 anos que já abortou duas vezes e agora tem gonorréia!

(Samuel Gois Martins) 02/09/05

Friday, August 26, 2005

Lembrança

A lembrança mais extraordinária com certeza foi quando me perdi em um jardim de rosas escondida no fundo do mar. Parece estranho quando falo, mas foi bem assim. Um jardim de rosas no fundo do mar. Sempre fui muito amigo de uma sereia. Grande amiga desde que me dou por gente ainda hoje me aparece com o som das ondas para conversar sobre o céu, as estrelas e musica erudita.
Mas naquele dia as coisas não foram bem começando como deveriam. Afoguei-me e perdi noção de vida. Meu corpo criou peso e afundei are os mais profundos abismos do oceano. Não posso dizer por quanto tempo estive desacordado. Acordei com um beijo de minha amiga sereia, chorando, preocupada. “Estou bem”, falei. Ela ainda chorava e me abraçou com força. “Onde estamos”, perguntei. “Parece o paraíso... Mas você está vivo” ela sussurrou em meu ouvido.
Não posso descrever tudo que vi depois. É impossível. Mas é tudo que posso lembrar que vale alguma coisa hoje em dia.

(Samuel Gois Martins) 26/08/2005

Monday, August 22, 2005

Miragem fria

Contei as gotas de chuva. Uma por uma. Ninguém estava lá para atrapalhar. Contei uma, duas, três, e a solidão tão bem me ajudou que contei todas. Trágico não conseguir sentir orgulho.
Eu o encontrei delicadamente encostado, como um boneco favorito de minha filha. Olhava a janela, estava branco e magro. Há quanto tempo estava lá?
Estava tão frio, não vestia roupa alguma. Depois de um tempo elas perderam o sentido.
Suspeito que fosse um fantasma. E pelo cheiro um cadáver.
Não consegui mover minha cabeça, pois muito pesada ela. Mas sei a sensação do nada, e tinha alguém atrás de mim, me observando, me apreciando. Não pude arrumar nada, sequer tem jantar. Queria pedir desculpas. Não consigo. Minha língua já se foi.
Daí começou a chover de novo, e meu esposo veio atrás de mim.
- Você esta pálida.
- Esta vendo aquilo?
- Onde?
Pois sumiu. O cheiro também.
- É o frio...
- A chuva mal acaba e já começou de novo.

Samuel Gois Martins (22/08/2005)

Monday, August 15, 2005

T

Existem milhares de maneiras de definir um ser humano qualquer. Mas os únicos são únicos. Seria estupidez narrativa ainda afirmar que é obvio isso. E hoje a narrativa é sobre alguém único. Não por ser mais interessante, bonito, habilidoso ou carismático que os outros. Qualquer pessoa pode ser isso tudo. É só ter dinheiro. Mas T não é qualquer um. T não tem muita grana. Inclusive trabalha para pagar seus estudos. E o que estuda? Estuda o que qualquer um estuda. Isso não torna T única. Isso mesmo: única. Alem de ser único, T é do gênero feminino. Não é bonita, posso afirmar, a conheço muito bem. Não é nem um pouco simpática, na verdade, é bem introvertida... Como qualquer um nesse mundinho de merda. Ok. Não vou rebaixar a palavrões. T foi alguém único pelo simples fato que não seria qualquer pessoa por que eu estaria de madrugada roendo musicas patéticas que ferem o cotovelo. E possivelmente não seria por qualquer uma que estaria pensando nas mil e uma maneiras de como T pensaria. E como pensa T? A parte difícil é como pensa uma mulher. A primeira etapa primordial. Ao patético caminho da perda de auto-respeito. E por isso T é única. Por ser uma mentira narrativa. Uma tentativa romântica frustrada inspirada nos próprios problemas do autor. Um pouco de desabafo cansativo e inspiração inútil. Isso é T. T de teoria do caos. T de Tudo. T de Tartaruga marinha.

Samuel Gois Martins (15/08/2005)

Thursday, August 11, 2005

Sorvete

As pessoas dispostas na rua. Um monte delas. Geralmente eu odeio isso.
- Sorvete?
- Não obrigado. Preciso emagrecer.
Mas hoje é o tipo de dia que eu tenho para poder me inspirar. A inspiração pra mim funciona com o ato de provocar minha criatividade. Provocar no sentido de irritar mesmo. A solidão ajuda. Estar entre os montes de pessoas, os seis bilhões de loucos, é o suficiente para se sentir bem sozinho. Eu bem que gostaria de poder tomar sorvete.

(Samuel Gois Martins)

Tuesday, August 09, 2005

A terceira pessoa

Meses se passam, e Ed, o grande detetive, com sua geniosa cabeça conservada em um pode de formol mantêm o mesmo olhar admirado desde seu primeiro encontro comigo. Por um momento detive-me na velha mania de fazer narrativa em 1ª pessoa. Hoje não. Hoje não. Ao lado de Ed está Jasmim. Em sua boca meu órgão sexual, quer dizer... O órgão sexual de um monstruoso psicopata.
Voltemos para o Ed. Ed, 28 anos, admirado por colegas, cheio de mulheres, saúde exemplar, mente magnífica. Ed desde criança já revelava sua genialidade como mestre dedutivo. Foi Ed que descobriu que sua mãe mantinha relações com o cara que limpa a piscina.

O garoto com sua lupa de brinquedo mais parecem um cão pastor farejando em tamanha concentração que era certeza que não seria gente grande. Gente grande não se concentra. A lupa amplia os mais inimagináveis resquícios de sujeira do chão. Mas não era bem sujeira que ele procurava. Era algo como mingau. Mas muito fedorento.
Cansado com as horas de raciocínio dedutivo para, senta e chupa o cabo da lupa. Ele tem essa mania, de chupar e morder as coisas.

Ed relembra com um sorriso no canto esquerdo da boca. A infância lhe foi muito grata. No carro com seu parceiro, dirigem-se para o lugar do crime.
- O quinto?Também arrancou a cabeça?
- É. Coisa leve – suspirou o entediado detetive.

Jasmim é uma lésbica que dava shows exóticos numa boate. Pensar em Jasmim é pensar na fantasia de soldado que ela adorava usar, ou seja, tirar aos poucos. Jasmim era muito parecida com a mãe de Ed. Por isso Ed sempre lhe pagava mais por uma chupeta. E olhe que chupeta de uma lésbica já é bem cara!

Ed quase se sentiu triste em ver seu corpo sem a cabeça. Uma boqueteira lésbica sem cabeça é algo frustrante. Ed lembra de sua mãe gemendo no banheiro com o limpador de piscina. Ela estava toda suja. Naquela época chegara a conclusão que o limpador era algum tipo de mutante. Dali só pode sair xixi! Tinha que salvar mamãe. Sorte saber onde papai guardava o revolver.

Alguém entrou em minha casa. Mas estou no porão. Sempre nos escondemos no porão. O porão é tudo de mais legal no mundo. Tente você também no porão. Olho nos olhos de Jasmim. Olho nos olhos de Ed. Meu querido meio irmão. Pois bem, não pude respeitar as regras da narrativa de 3ª pessoa. Fica pra próxima.

(Samuel Gois Martins) 09/08/2005

Saturday, August 06, 2005

Historias

- Foi quando deixei cair uma poesia do caderno.

Sou todos os olhos da humanidade,
Todos os ouvidos,
Todos os sabores.
E não posso acreditar no que estou vendo.
Não posso acreditar no que estou ouvindo.
Sou toda a esperança.
E o pecado de sonhar.
Não posso ser verdade.

Segurando o papel, ela olhou para mim com ternura. Ou pena mesmo.
“Bonito...”, ela falou.
“Rabiscos.”, respondi.
“Bonitos rabiscos.”, ela brincou.
Peguei o papel e guardei de volta em meu caderno.
“Também gosto dos sonhos.”, ela acrescentou.
“Não se arrisque tanto...”, terminei. Depois fui embora sem olhar pra trás.
- Você conta essa historia todo dia, velhote!
- E vou continuar contando...
- Não reduza sua vida a uma frustração idiota. Sei muito bem que nunca foi solitário, que foi um grande boêmio. Todas as mulheres da cidade eram suas!
- Não é uma historia sobre mulheres. É sobre sonhar.
- Mas você mesmo a desencorajou de continuar sonhando.
- É porque nunca lhe contei o que acontecia depois.
- O que?
- Eu acordava nesse asilo de merda.

(Samuel Gois Martins) 06/08/2005

Wednesday, July 27, 2005

O livro que não comecei

1

Essa é a historia do autor.
Não eu.
É um conto, sabe.
Meu conto.
E o que vou narrar nele nada tem haver comigo. E sim com o autor.
Alguém que nasceu depois de mim e que busca suicídio às escondidas.
Agora mesmo.
- Você ai, fique longe do varal.
Contorceu-se medroso para o banheiro.
Urinar é um jeito de relaxar.
Eu fui para o meu quarto. Tanta tralha encima da cama. Na verdade livros de importância para mim. Por isso dormem na cama.
Eu durmo no chão.

Dor nas costas. Poderia ser pior. Sempre poderia.
Procuro o relógio. Provavelmente dormindo com as tralhas. Não vou incomodá-lo.
Toalha vermelha. Ainda molhada. Um dia todo para secar. Ainda molhada.
Ligo o chuveiro.
Imagino como seria pisar num sabonete e bater com a cabeça na privada e assim morrer. Imagino meus pais desesperados. Afastar meu corpo gordo e ensangüentado do banheiro não vai ser fácil.
Imagino não morrer imediatamente e fica me contorcendo de dor.
As gotas chegam ao meu rosto.
Água fria desperta o que ainda estava dormindo.

Tento me secar com a toalha molhada.
Cueca. Bermuda. Camisa do festival legal que se arrependeu de não ir no ano passado.
Se ainda for de manhã devem ter os restos na mesa.
E tem.
Pessoas também. A vagina chefe. O juiz. O autor. Mas o autor não come na mesa. Tem um prato de ração para ele.
A historia é sobre ele.
A Vagina fala.
- Você se inscreveu naquele concurso publico como recomendei?
Não falo com vaginas.
- Eu me preocupo com seu futuro... Você não quer nada da vida!
Fico acariciando a cabeça do autor.
- Já vou.
Vai tarde Juiz.
- Boa aula, meu filho.
- Obrigado. E você, vê se faz algo da vida...
Eu faço. Não falar com juizes e vaginas é uma delas.
O autor fica lambendo alguma macha no chão que parece comestível.
- Vem cá, autor. Vamos escrever.

A Rainha de Grandes Seios deixou escorrer sangue inocente em sua lamina.
- Graças os Deuses não atrasou...

Lixo.
Lixo.
Lixo.
O autor corre com o rabo entre as pernas.
Burro só ele, pois sabe que não tem rabo.

- Alô?
- Você vai para a festa?
- Festa?
- Todo mundo vai para a festa.
- Festa?
- Ela também vai estar lá. Não te falaram mesmo da festa?
Festa?
Então musica alta e ruim invadem os meus tímpanos. Pessoas fazem algo que chamam de dançar.
Eu não sei fazer algo que chamam de dançar.
As pessoas estão bebendo.
Eu não bebo.
As pessoas estão sexualmente ativas.
Nunca fui sexualmente ativo.

- Graças aos deuses não atrasou...
A Rainha de Grandes Seios temia estar grávida do Bárbaro.
Ainda não escrevi sobre o bárbaro.

- Graças a deus não atrasou...
Conversas fúteis de meninas fúteis.
Seria legal trepar com uma delas.


- Festa...?
O Juiz chega do tribunal.
- Ficou sabendo da festa?
O autor quase bebe veneno de rato. Fui mais rápido.
- Escreva sobre o Bárbaro.

Ela também vai estar lá. O autor fez algo sobre o bárbaro? O juiz entrou no quarto com Ela.
Ela uma vez conversou horas comigo no telefone. Odeio telefone.
Ela gosta do autor. Diz que ele faz coisas legais.

O Bárbaro veio de uma terra montanhosa, onde apenas o frio governa o coração dos homens. O Bárbaro busca pelo calor de uma mulher.
De preferência com peitos grandes.


(Samuel Gois Martins) Datas diversas

Tuesday, July 26, 2005

Feitos da Fé. Feitos da Duvida.

Quantos olhos Deus, o todo poderoso, terá? Quantos ele quiser ter, essa seria a resposta mais pratica. Mas pratico não é o meu nome do meio, muito menos o do lado. Atormentado por essa duvida procurei na religião uma resposta. Infelizmente a bíblia falava muito pouco com palavras demais. Claro que não desisti. Foi assim que me tornei padre. Mas não um padre qualquer. Tem cinco crianças de nove a um ano de idade penduradas ao redor de minha cama. Dei um jeito de deixar seus olhos bem abertos. Acredito que quando tiver o numero certo de olhos ao meu redor terei um sinal. Elas são tão boazinhas que não fazem nenhum barulhinho...

(Samuel Gois Martins) 26/07/2005

Sunday, July 24, 2005

Sortudo

Gozar da sorte é um meio pouco convencional de viver, porem muito bem aceito na sociedade. Viva a sociedade, está maquina de competência e prosperidade. Guardo pedaços de grandes feitos mundiais em um baú que chamo de esperança. Outro cheio de desgraças chamo de mamãe. Claro que ela não sabe disso. Toda noite enquanto dorme levo uma dose de morfina e bisturi para guarda direitinho todas as reportagens. Sortudo. É o que sou.

(Samuel de Gois Martins) 24/07/2005

Saturday, July 23, 2005

Contando meses

Chegar cansado em casa. Tudo escuro. Sou apenas um com o chiado do aparelho de TV sem antena. Alguns meses e ainda não criei coragem para comprar antenas novas.
Com licença, eu gostaria de ver as antenas para aparelhos de TV. Só um estante. Já pensou em usar TV a cabo? E via satélite? Não obrigado. Quanto custa a antena mais barata? Você já se informou sobre as vantagens de possuir TV a cabo? Sim, já me informei. Não gostou? Gostei sim. Por favor, o preço da antena mais barata.
Cambaleando no escuro, roupas e livros jogados pelo chão. Os livros são emprestados e as roupas não conhecem água e sabão já faz algumas semanas. Tudo bem, eu não suo. Ar-condicionado o dia todo. Boca seca. Água. O telefone toca. Alô? Oi. Tudo bem. Tudo bem? Se me lembro? Hã... Sim. O que foi? Jantar? Claro que marquei. Tudo bem. Pode ser na sua casa? Vai tomar pílula? A TV esta chiando. Lembro mais uma vez da moça que não me vendeu antenas. Todo mundo tem obsessão por TV a cabo hoje em dia. Masturbo-me pensando nela. Por que elas sempre contam os meses? Treinamento pra quando embuchar. Só pode ser. Pílula o caralho. Por favor, esse ai. Dez. É que sou precoce. Proteção total, certo? Desligo a TV. Não era a gostosa do escritório. Aniversario de mamãe. Vou lavar a mão e procurar a cueca de anteontem. Por favor, um Doflex. É para mamãe.

(Samuel Gois Martins) 23/07/05

Friday, July 15, 2005

Confissões

Não vão acreditar quando entenderem que essa historia teve seu ponto zero quando uma descarga fez o dito grau de barulho que me acordaria.
- Puta merda! Há essa hora?
E o cheiro também.
A pior parte é saber que os “cuashes” irritantes eram produzidos por pedaços de massa fecal espatifando-se na água da privada
Alem de acordar irritado, por algum motivo parei para tentar descobrir que tipos de loucuras o álcool me levou na noite passado.
O primeiro choque foi saber que não estava verdadeiramente com ressaca, isso é, não havia bebido na noite passada.
Então tentei pensar no que teria me levado a não beber na noite passada.
Foi assustador entender que não recordava de nada anterior às cinco horas da tarde da noite passada. E que até este momento nada teria me motivado a me embebedar ou drogar com qualquer tipo de coisa.
Pior. Muito pior.
Pois também recordei que morava sozinho e que não existia a menor possibilidade daquelas massas fecais caindo na água da privada não serem minhas.
Conclui duas coisas lógicas que poderia explicar perfeitamente todo o paradoxo. Primeiro: poderia ter sido capturado por E.Ts e recebido uma sonda no cu. Provavelmente quem está no banheiro soltando um barro é um alienígena que ficou para me vigiar.
A segunda hipótese: eu sou um clone de mim mesmo que foi clonado aproximadamente pelas cinco horas. Enquanto eu fui soltar um barro os cientistas conspiradores teriam posto o meu corpo clonado para acorda e assim enlouquecer com o fato, então, literalmente, me matar.
Mas por que alienígenas enfiariam uma sonda no meu cu ou cientistas iriam querer que um clone de mim mesmo me matasse?
Provavelmente eu devo ser muito importante. Talvez um predestinado com super-poderes, onde apenas eu poderia me derrotar. Talvez muito bonito e os alienígenas sejam homossexuais pervertidos com fissura em por sondas no cu.
Sempre guardo uma navalha de barbear reserva na gaveta do móvel.
Dos dois casos ou me mataria ou mataria o visitante de outro planeta. Sabe, nem olhei direito para o que matei. Só sei que quando me viu falou algo como “Papai, você não já fez a barba?”.

Samuel Gois Martins 16/07/05

Tuesday, July 12, 2005

Cheiro de queimado, melodias do passado

Era uma vez quando tentei recordar daquelas canções que me ensinavam quando era criança. Uma longa e perturbadora viagem se seguiu dentro de minha mente, perdido entre diversos traumas e recordações dolorosas. Foi quando me toquei de o quanto minha infância foi cheia de problemas.
Tudo bem, afinal de contas ainda restavam as canções. As canções que ainda não consegui encontrar. Mas que tenho certeza estar escondidas em algum lugar. Nas gavetas do velho quarto, defendidas por soldadinhos de chumbo. Escondidas num canto de minha boca, loucas para sair em uma vibração de desabafo.
Onde estão aquelas velhas canções que me ensinaram quando era criança?
Dos traumas lembro tão bem...
Um deles, tomando café em uma sala olhava para mim com desaprovação.
- Quem mandou você pisar no gramado?
Olhos lábios. Falando em uni som toda sua desaprovação.
- Eu... Eu não queria...
- Não queria todos aqueles brinquedos espalhados pelo terraço também?
- Não me olhe assim!
Cheiro de queimado.
Por hora esquecer. Hora do almoço.

Samuel Gois Martins (12/07/05)

Sunday, July 03, 2005

A Longa barba do Shaolin

Mestre Tong Ling me acorda sempre às quatro da manhã para treinar.
Quatro da manhã.
Sempre associo com os seus chutes. Começa com os chutes. Amigamente associava aos hematomas. Hoje posso me esquivar. São apenas chutes.
Não.
São apenas correntes de ar.
Os olhos de Tong Ling revelam satisfação. Ele acaricia sua longa barba Shaolin e indica que eu o siga.
Eu o sigo.
Eu paro.
Seus outros alunos, alunos menores. Já fui um deles. Ataque pela esquerda. Ele ainda não pode voar. Eu posso voar. Já quase perdi meu coração uma vez. O pobre coitado perdeu.
Ele ainda pulsa em minha mão.
Tong Long me desaprova.
Argumento que vai sobrar mais comida.
Ele acaricia sua longa barba Shaolin.
Eu o sigo.

Wu Fa 03/07/2005

Tuesday, June 28, 2005

Lugar deprimente

Estou procurando por um lugar.
Não sei bem onde é.
Seis da manhã. Um pesadelo ajuda na pontualidade. Encarar o mesmo teto há tantos anos tem sido parecido com uma doença.
Cinco minutos costumo demora em sair da cama. Os cinco minutos que me fazem lembrar de o quanto me odeio.
Eu me odeio.
Eu me odeio.
Eu me odeio.
- Já acordou?
Eu me odeio.
- Oi?
- Eu me odeio.
- Hã?
- Bom dia...
- Você esta bem?
- Difícil responder isso após acabar de acordar.
Mais um suspiro. Contenho uma lagrima. Quantas eu já contive todas as manhãs? Preciso sair. Encontrar o lugar.
- Vou sair.
- Pra onde?
- Não tenho para onde ir. É por isso que tenho que sair.
Eu preciso achar um lugar.
O lugar.
Hoje irei ao centro. O centro é cheio deles. Os lugares. Muita gente não gosta do centro. Eu penso que possa existir certo carisma.
Vou tomar banho.
O banho me toma.
Cada gota do chuveiro me castiga com o frio. Contenho-me para não tremer. Cantarolo baixinho alguma coisa qualquer que não sei cantar.

Nota: Texto incompleto. Escrevi-o bem deprimido e como não estou mais deprimido não sei continua-lo (nem quero na verdade).

Samuel Gois Martins 28/06/2005

Sunday, June 26, 2005

A hora

A hora: Vamos, está na **.

O louco: Não posso ir.

O gordo: Estou sem pernas.

O louco: Onde foi que as perdeu?

O louco: Guardei-as em algum lugar e não acho mais.

O louco: Não deixou na cozinha?

O louco: Não tenho cozinha.

A hora: Você vai se atrasar...

E as gravatas?

A hora: As gravatas!

O louco: Não posso esquecer as gravatas!

A mulher: Você tem namorada?

O gordo: Você quer namorar?

O gordo: É só brincadeira.

O gordo: Não me olhe assim!

A hora: Não beba demais. Achou as penas?

E as gravatas?

O louco: Estou gordo.

O louco: Será que ela vai gostar de você?

O louco: Você quer namorar?

O espelho: Você quer namorar?

Namorar é uma palavra brega, que nem as gravatas.

O gordo: E as pernas.

A mulher: Como disse?

O louco: Que bom que achei as penas.

A hora: Não chegue tarde.

A mulher: Seria melhor sermos apenas amigos.

O louco: Vou matar o gordo.

O louco: Eu também.

O louco: Deixem o coitado.

O gordo: Estou suando.

A mulher: Gordos fedem desse jeito?

A hora: Não chegue depois da meia noite.

A fada madrinha: Gordo fedorento.

As pernas: Andam.

A mulher: Foi bom conhecer você.

A mulher: Seremos bons amigos.

A mulher: Por que esta andando no meio da rua?

A mulher: Cuidado com o carro!

O louco: Até outro dia!

O louco: Foi bom conhecer você!

A hora: Isso são horas?!

O gordo: Morri.

A mulher: Merda!

O louco: Caralho!

A hora: Puta que pariu!

O carro: Crash.

O louco: Na sala. As pernas estão na sala!

O gordo veste a camisa menos apertada e penteia seu cabelo. A gravata é de mau gosto, mas de bom coração. Espera que role algo.

(Samuel Gois Martins) 26/06/2005

Tuesday, June 14, 2005

Violência e vulgaridades desnecessárias de Deus

No final do corredor vejo as linhas que formam o destino.
Essas linhas medem seus 1,68 centímetros e devia perder uns quilinhos.
Linhas que fedem a pessoa que urina e não lava as mãos.
As mãos estão bem próximas, acompanhadas de um sorriso amarelo imbecil.
Exatamente 35 segundos se passam.
- Bem, você deve ser você.
- É, sou eu mesmo.
- Poderia me acompanhar?
Por que o idiota continua apontando a mão para mim? Fedor de porra desgraçado. Não é mijo não. Punheitero desgraçado filho de uma puta. Não vou aperta sua mão. Não mesmo...
- É um prazer...
Ele segura a minha mão firme. É veado. Tenho certeza. Firme demais. Achou que eu não ia notar, em?
Caminhamos com uma pressa discreta até o final do corredor. A luz inicial ofusca meus olhos. A luz saia da própria pele do sujeito. O Foda em pessoa.
O Foda fala:
- Analisamos cuidadosamente o seu perfil empresarial...
Eu fico olhando com cara de cu. Calado, escutando a voz fodonica do Foda.
- Você parece possuidor de categoria para este trabalho...
Mais categoria que eu, só o aquele negão de pau enorme dos filmes pornôs. Qual o nome dele mesmo?
- Diga, aqui fala que você possui total desapreço pela vida e valores morais...
Long Dond Silver, acho que é esse o nome.
- Você está realmente disposto a fazer o trabalho sujo?
- Com toda certeza. – respondo com aquela cara de balconista do Bob’s.
- O que acha de meu assistente?
Encaro o gorducho punheteiro com o sorriso da hora do pagamento, o seu Bib Bob, senhor.
- Um punheteiro fedorento gordo de merda.
O retardado continua com aquele sorriso de antes.
- Você o mataria?
- Com todo prazer.
O Foda tira da gaveta uma arma bem legal. Daquelas que fazem bang bang com estilo, tipo aqueles filmes de Tarantino. Senti até a trilha sonora.
Bang bang.
O sangue escorreu pelo carpete. Sorte que a cor era a mesma.

(Samuel Gois Martins) 14/06/2005

Thursday, June 02, 2005

Coração mascarado e a chuva de palavras molhadas

Chove. É o tempo. E o tempo não passa.
Termino um parágrafo do livro. Mais um cheio de palavras. E as palavras vão se perdendo. Elas fogem para algum lugar melhor. Mesmo assim o teto é branco.
Esta usando mascara e chega sorrateira. Cheia de perguntas.
- Mais palavras?
- Ou menos. Estou perto do fim.
- E sobre o que são?
- Ainda não sei ao certo.
- Mesmo perto do fim?
- Mesmo terminando o livro. Eu não vou saber sobre o que é.
- Por quê?
- O livro é sobre liberdade. Sobre amor.
Ele mira bem nos olhos, escondidos por detrás da mascara.
- Você não sabe nada sobre os dois...
- Quem sabe? Você sabe? Não sabe. Você esta tão presa numa mascara. E é tão seguro nela. Não é mesmo? Está tão segura distante daqueles que amariam o seu rosto. Amariam o seu corpo.
- E dos olhos todos tem medo
Sobe na cama. Parece um gato. Abraça-o.
Sussurra:
- A chuva não para.
- É o tempo – ele responde.
- E o tempo não passa...

Não poderei entender o livro.
O livro parece não ter fim.

(Samuel Gois Martins) 02/06/2005

Monday, May 30, 2005

Lagrimas

Lagrimas?Chove todo dia, não precisamos de lagrimas.
Mas o garoto miúdo não se deixou vencer pelas palavras frias de sua irmã magra.
As lagrimas estão em algum lugar, fala pra si mesmo.
Escolheu pegar carona num rio de chuva que surgiu próxima a avenida de sua moradia. Ele deslizou até chegar nos porões do esgoto onde tiraria suas duvidas com um peludo narigudo.
O peludo narigudo. Em posição de lótus se banhando numa cachoeira de fezes do banheiro numero quinhentos. Um número sagrado.
Garoto miúdo não tinha palavras, nem pensamentos, para descrever o quão nojento e iluminado era aquela visão.
Diga Miúdo, o que o traz aqui?
O que o traz aqui? Boa pergunta.
Lagrimas.
As chuvas acabaram com as lagrimas...
Não existem mais lagrimas?
As pessoas não têm mais coragem de enxugá-las. Pediram para os cientistas darem um jeito.
Os cientistas transformaram em chuva?
Basicamente.
Mas todos continuam tristes...
Por isso chove.
O garoto então entendeu e sentou-se ao lado do peludo narigudo.

(Samuel Gois Martins) 30/05/05

Thursday, May 26, 2005

Diálogos de época

- Quero uma guilhotina, ela arranca cabeças sabe... A minha? Não, a sua. É, a sua. Vai rolar pelo chão até cair em meio ao publico. Vai ser a melhor parte do show.
- Senhor, lamina serrada ou bem afiada?
- Qual dói mais?
- Serrada. Mas acho que não vai cortar de imediato...
- Serrada então. Não chore, por favor. Por que você? E ainda pergunta? Olha só onde estamos! Idade Media, das Trevas, período feudal, bla bla...!
- Senhor.
- Diga.
- Estamos sem laminas.
- Sem laminas? E a forca?
- Os cupins...
- Eu mandei vocês cuidarem desse problema dos cupins na semana passada!
- Desculpe, senhor! Por que não deixa o publico apedrejar o culpado ate a morte?
- Não é má idéia... O que você acha? Gritar e chorar não vai mudar o fato de que será acusado de bruxaria... Injustiça? E aquele gato preto? Não me diga que você apenas dava leitinho que eu não caio mais nessa! O que mais? O que mais? Você ainda pergunta?! O padeiro me falou que você andou falando que a terra era redonda, que coisa mais feia...!
- Senhor o povo não quer apedrejar, alegam ser cafona. Pediram por churrasco.
- Churrasco então. Como? Você tem alergia a fogo? Não se preocupe. É só na primeira vez... Onde está o meu capuz?


(Samuel Gois Martins) 26/05/2005

Tuesday, May 24, 2005

Voar, amar, etc.

Pequena Jasmim recentemente aprendeu a voar.
Como é o céu visto lá de cima, pequena Jasmim?
- São milhares de centenas de bolhas flutuando. Com todas as cores. E o som do vento são todas as melodias. Por um momento você sente um choque que percorre todo o corpo. É exatamente ai que descobri sobre a liberdade.
Liberdade?
- É. Liberdade. Tão surreal. Próximo da morte... Tem sabor de morango.
Morango?
- Só os plantados no Pólo Sul.
Pequena Jasmim... Isso é voar? Para mim você esta amando...
- Amando? Não mesmo... Quando amamos infelizmente estamos com o pé bem no chão.

(Samuel Gois Martins) 24/09/2005

Tuesday, May 10, 2005

Perseguição medica.

O clinico geral.

- Você esta morrendo...
- Cedo ou tarde...
- Estou dizendo que se continuar assim vai ter problemas piores que o seu pai.
- Divórcios?
- Diabetes e hipertensão.
- E eu já não tenho um desses?
- Só Deus sabe como você ainda é saudável... Vamos perder uns quilos meu rapazinho...

O psicólogo.

- Então você tem problemas de comunicação com seu pai?
- Eu não. Por que acha isso?
- A almofada azul ficou tão distante da branca...
- Ta dizendo que só por isso tenho problemas com meu pai?!
- Ou de auto-estima...
- Auto-estima?!
- Já pensou em perder peso?

O dermatologista.

- Você devia cuidar mais da pele.
- Não tenho tempo pra essas coisas.
- Então não devia cutucar tanto...
- Preciso desse tique nervoso de vez em quando. Mantêm o juízo.
- Sabia que a alimentação tem tudo haver com a pele?
- Vai me mandar perder peso?
- Já deveria ta perdendo!

O oculista.

- Bem... Não aumentou o gral esse ano.
- Maravilha...
- E você não apresenta nenhum problema preocupante.
- Ótimo.
- Mas seria bom perder uns quilinhos...

O dentista.

- Parece que seus dentes estão em ordem... Você come muitos doces?
- U esmo guii txodjo undo...
- E coisas gordurosas.
- Nhaum maiz gui txodja humanidjadji.
- Poderia praticar exercícios então...
- Ploderinha shoutxa mina buca...

(Samuel Gois Martins) 10/05/05

Tuesday, May 03, 2005

O Porco falante

Mais vezes eu esperei por ela. Mais vezes. Ou menos dependendo do dia, sexta feira mesmo... E teve o dia que o porco falou.
Ela costumava dizer que me amava. Eu também. Ate hoje me pergunto se mentíamos um para o outro em momentos de solidão ou apenas éramos pessoas malvadas.
O porco só sabia fazer oinc.
- Oinc.
- Então ela foi embora pedindo para que eu a esperasse.
- Oinc.
- Acho que foi sua ultima crueldade, após as mentiras.
- Oinc.
- A minha crueldade é esperar. Até a consciência pesar tanto que sua cabeça vai cair no chão como uma bigorna pesada.
- Oinc.
- Bem pesada.
- Pesada.
E foi assim que o porco falou.

(Samuel Gois Martins) 3/5/05

Monday, May 02, 2005

Loucuras

De todos os gêneros são os pensamentos.
Um deles certo dia decidiu fazer revolução. Correu feito um louco pela rua, na frente de todos, pelado e cantarolando coisas indecentes.
Veio o hospício e o amarraram em uma camisa de força.
Acusaram o pensamento de loucura.
- Foi tudo culpa daquela professora maldita!
- Ordem no tribunal! Ordem!
Jurados, advogados, juiz e réu. Todos inquietos e ansiosos com o destino do pensamento maluco.
- Essa não é uma terra de liberalismos. Senhor Jui...
- Discordo! Cadê o meu advogado? Não tenho advogado?!
- Ordem! Ordem!
- Como eu dizia, não permitimos pensamentos loucos correndo pelados por ai. Querendo escandalizar uma cabeça sã.
- Eu não sou louco! Apenas um pensamento diferente! Uma revolução! Uma idéia!
- Bla bla bla. Senhor Juiz e jure. Olhem para esse pobre coitado. Apenas uma criança sem auto-estima que acha que nossa cabeça é como as merdas que mostram na televisão.
Grande erro.
- Ei! Eu gosto de 24 horas!
E o júri e platéia se revolta...
- E eu de Simpsons!
- Eu adoro a novela.
Silencio.
- Friends, eu quis dizer Friends!
- Ordem! Ordem no tribunal!

- Você ia dizer alguma coisa?
- Hã?
- Você me puxou para esse lugar para me dizer alguma coisa... O que é?
- Bem...

- Decreto que o réu não é louco, apenas uma idéia diferente que vale a pena ser arriscada.

- Quer casar comigo?

(Samuel Gois Martins) 2/5/05

Monday, April 25, 2005

Fantasmas

Tem uma casa cheia de fantasmas.
O filho.
A filha.
O pai.
A mãe.
O morto.
Todos fantasmas. Vagando por ai. Fingindo que não existem.
As crianças que passam por ali sempre olham com espanto para a casa.
- Tem certeza que é assombrada?
- Sim!
- Jura? Quem te contou?
- O morto!
Claro, se foi o morto.
Sempre assim entre as crianças quem andam por ali até a escola.
Durante a noite os fantasmas choram. Urram gritos de lamentos e desespero. É assustador.
Tão assustador que o morto não agüentou. Arrumou suas malas e foi embora. Não suportava viver naquela casa assombrada.
A crianças continuam comentando.
A cidade toda fala.
A cidade toda reza.
Do pai, do filho, da filha, da mãe, e do espírito santo. Amém.

(Samuel Gois Martins) 25/04/2005

Sunday, April 17, 2005

Fabulas com peixes e anões

Se não estivesse tonto o suficiente o carinha ia correr e meter porrada no maldito anão. Sim, vamos falar do anão já já. Numa visita em que o carinha fez a cidade de João Pessoa, lugar que mais parece um jardim cheio de pedrinhas bonitas onde as pessoas moram dentro, conheceu um peixe maroto chamado Rogério. Rogério tinha se afastado da vida de água salgada e foi no centro da cidade em busca de oportunidades. O carinha escutou daquelas historias que a mulher da Paraíba abre as pernas para qualquer sujeito do sul, triste decepção que gente feia ainda consegue ser feia em todo canto. Voltado ao anão, ele vendia vale transportes nas paradas confusas da lagoa, o cartão postal mais conhecido da cidade. O carinha estava na parada conversando com o peixe maroto. Perguntou por que não iria nadar na lagoa. O peixe respondeu que a praia dele é água salgada, mas que esta tentando parar por questões medicas. Tudo bem, o carinha comeu uma dona, foi ate assim que ele ficou muito amigo do peixe Rogério que deu uns toques de como levar as donas pra cama. Foi nessa mesma noite também que ele conheceu o anão. O anão córneo ele. O anão pegou a mina dele. Anão filho da puta, como diria Rogério. E não foi que na bendita parada lá estavam eles frente a frente? Mas tava foda. A lagoa fedendo. O carinha não tava acostumado com o cheiro da lagoa.

(Samuel Gois Martins) 17/04/2005

Friday, April 15, 2005

Poluição sonora

stunque stunque stunque a rede de televisão orgulhosamente trim trim você ainda não arrumou o quarto trim trim estrelado por alô stunque stunque stunque eu pesso todo dia para você arrumar esse quarto alô é você não perca esta noite chhiiii stunqui stunqui clic clic por que não me ligou não custa nada arrumar o quarto e com vocês o ultimo sucesso da musica pop stunque stunque stunque gostaria tanto que você ligasse mais para mim chiiiii stunque mas sempre aquele chão espalhado de cuecas e revistas hoje é festa lá no meu apê stunque stunque stunque clic chiiii você me traio marcos augustos mas não tenho sempre que ser eu a ligar para você não perca o próximo episódio seu irresponsável que sequer trabalha ou estuda stunque stunque você não me ama mais não é chiiiii pode aparecer o que é essa faca alô alô stunque stunque clic slap crep chiiii

(Samuel Gois Martins) 16/04/2005

Monday, April 11, 2005

Globalização e juventude

As possibilidades são muitas. Provavelmente um pássaro morto pendurado por uma corda, galinha talvez. Isso tudo no meio de um pentagrama de...
- Sangue, senhor.
- EU tava narrando. Sabia?
- Desculpe senhor, por favor, desculpe.
- Sem grilo.
Boa parte dos detetives e policiais que se prezam não perderiam tempo cuidando de casos imbecis com adolescentes e animais mortos. Todos sabemos que isso não passa de drogas. Também se podem culpar alguns jogos malucos e aquelas bandas de rock.
As boas mães fazem protestos na casa do prefeito mandando proibir tudo isso.
Bah, coisas idiotas. Adolescentes são idiotas. Um bando de degenerados na verdade. Pegam a coitada de uma galinha, derramam o seu sangue, desenham um pentagrama, se drogam e depois cometem suicídio coletivo para aparecer na televisão.
Chamem de estranho, chamem doentio, decadente. Eu chamo de globalização.
- Senhor...
- Diga.
- Devo ressaltar que eles arrancaram as próprias pernas antes de se matar.
- Eu notei.
- Alguma idéia?
- Acho que arrancaram para não poderem fugir depois.
- Isso é meio bobo chefe...Assim...Acho que é menos doloroso se matar de uma vez.
- Meu querido parceiro.Olhe para eles...O que você esta vendo?
- Cinco adolescentes. Media dezesseis a dezoito anos, quatro garotas e um...
- Um garoto?
- Bem, era para ser.
- Entendo.Prossiga.
- Bem, os jovens estão sem suas pernas e com os pulsos cortados.Maquiados no estilo conhecido como gotic...
- Você já entendeu?
- Como assim, chefe?
- São adolescentes... Adolescentes são idiotas. Adolescentes idiotas arrancariam as pernas para não fugir da merda dum ritual mais idiota ainda.
- Mas, senhor...
- Eu trabalho nessa merda há dez anos. É sempre assim. Entendeu bem?
- Sim...
- Ótimo.

(Samuel Gois Martins) 7/06/2004 – 12/04/2005 (editado)

Sunday, April 03, 2005

Imortais

Uma troca de olhares.

Ela respira com a calma na nobreza. Tantos e tantos anos.

Ele ofega aos tropeços de sua fé. Tantos e tantos anos.

Os dois sabem que o tempo não é nada. Estão sobre a terra a tanto tempo que as pessoas mal conseguem acreditar que um dia poderão deixar de existir. Na verdade, eles sabem que mesmo quando estiverem debaixo da terra, sua existência se prolongara por algumas décadas na memória dos homens.

Sua bengala revela uma lamina, seu turbante é jogado para trás. E debaixo apenas a velha bata de padre que possuía antes disso tudo começar.

Tantos e tantos anos.

Ela tira aquela espada cheia de jóias. Ainda suja com o sangue do século passado.
O som da batalha.
- Só pode haver um. – ele sussurra.
De tantos e tantos anos.
- É verdade. – ela decepa.
O papa morreu. E deus salve a rainha. Uma dos últimos imortais.
- Tantos e tantos anos. – terminou a cabeça rolando no chão.

Amem.

(Samuel Gois Martins) 03/04/2004

Thursday, March 31, 2005

Geladeira peidona

- Muito bem... Quem foi?
- Eu mesmo não.
- Nem eu. Foi você, né?
- Eu?! Por que eu?
- Se não foi nenhum de nós... Só pode ter sido você!
- Grande detetive!
- Você esta sendo irônico comigo?
- Muito bem. Calma. Pode admitir quem foi... Hora bolas, ninguém vai ficar chateado...
- Isso mesmo.
- Concordo.
- Perfeitamente.
- Humhum.
- ...
- ...
- ...
- ...
- ...
- Porra! Fala logo que foi você!
- Eu uma droga! Foi você! Ou voce?
- Que tem eu?
- Isso ai. Foi ele!
- Como tem tanta certeza?
- Bem... Então quem foi?!
- Acho que foi a geladeira.
- A geladeira?! – todos em uníssono.
- Isso ai. A geladeira!
- É, uma fruta podre na geladeira.
- Realmente, tem sentido.
- Inteiramente.
- Humhum...

(Samuel Gois Martins) 31/03/2004

Sunday, March 27, 2005

Carta de amor a ninguém

Desde a primeira vez... Que eu nuca vi você. Sempre tive certeza, encontrando aqueles olhos que nunca encontrei, era você. O vento que jamais soprou batendo naqueles cabelos que nunca nasceram. O largo sorriso que nunca foi feito.
Eu ate lembro onde eu não estava. Descia uma ponte de sonhos que construí desde minha primeira reflexão negada ate o ultimo suspiro contido. E me perguntava qual seria o não rumo. Lá não estava você, sentada na beirada, apreciando o por do sol que nunca aconteceu.
E as ondas do mar que sequer bateram? Maravilhosas.
Provavelmente você não me olhou com desdém. Um cara gordo, de longe com uma aparência próxima do que chama de atraente. Claro que você nunca olharia. Da mesma forma que eu nunca olharia você. Nem se quisesse, pois você não existe. Certo?
Eu me lembro muito bem de como não me sentei ao seu lado, da coragem que não tive para fazê-lo. Da coragem que não tive para dizer:
- Oi.
E também me lembro muito bem da sua resposta nunca pronunciada:
- Quem é você?
Mas foi um quem é você de ironia, nem rancor, ou medo? Não. Não foi de uma infantil curiosidade. Inocente e bela curiosidade. E teve o que eu não respondi.
- Ninguém...
E o espanto que você não teve. Pois como era grande a coincidência.

Samuel Gois Martins 27/03/2004

Friday, March 25, 2005

Desde que me lembro

O cheiro apetitoso que revela a hora da janta. Meu pai, minha mãe, eu e tia Margarida corremos para a mesa. E também tem o cara misterioso que desde que me lembro também aparece para jantar com agente. Desde que me lembro. Ele se senta na outra cabeceira da mesa. A terceira cabeceira da mesa. Ele fala bastante, mas parece que ninguém nunca da muito ouvidos para ele. Nem eu. Misteriosamente o papo dele na ultima noite me intrigou.
“Vocês deviam provar o gelo. É maravilhoso!”.
Gelo pra cá, gelo pra lá.
“Qual gelo?”.
Os meus pais, e tia Margarida, me encararam intrigados. Mas logo voltaram a comer a torta de frango e conversar sobre políticos.
“Vocês têm que provar! Não fazem idéia do que estão perdendo!”.
“Onde posso provar?”, perguntei.
“Provar o que, meu filho?”, perguntou mamãe.
“O gelo!”.
O cara misterioso agora passava a mão sobre a cheia barriga. Ele gostou da torta.
“Na geladeira, querido. Se você quiser tem na geladeira”, concluiu minha mãe antes de virar seu roto para tia Margarida e falar alguma coisa sobre absorventes.
O cara se levantou, acenou um discreto e cômico adeus e saio pela porta da frente. Como sempre faz. Desde que me lembro. Engraçado que ele sempre saia pela porta da frente que ninguém nunca usa. Papai fala sempre que não temos uma segunda porta da frente. Mas ela esta lá. Tudo bem... Já desisti de mandar mamãe limpar a terceira cabeceira da mesa.
Sim...Não gostei muito do gelo. Talvez só tenha sabor para quem toma na terceira cabeceira da mesa.

Samuel Gois Martins 25/03/2005

Thursday, March 10, 2005

Tecido delicado

O gosto de amargura chega a ser doce quando combinado com o da satisfação momentânea.
A senhorita pôs sua meia-calça. É incrível como gosta de usar uma coisa tão descartável. Principalmente em festas como essa.
- Não é evidente que em seguida vão se rasgar?
- Ai que esta a graça, meu amor.
Escapou a ultima baforada do cigarro.
As quatro da manhã ainda podia escutar gemidos, risadas, gritos e choradeiras. O corredor tinha um cheiro incomum de humanidade decaída e cada porta parecia um novo mundo macabro. Talvez seja por isso que gosto de vir aqui. Para me acostumar ao inferno.

Lá fora o meu motorista me espera atento com seus olhos de coruja.
- Como foi à noite, senhor?
- Como todas as outras, meu amigo.
- Pelo perfume sinto que ainda visita aquela senhorita.
- Não lhe pago para ser um detetive!
- Perdoe-me, senhor. Só estranho. É a primeira vez que vejo o senhor passar mais de três noites com a mesma mulher.
Ele levanta o freio de mão e faz aquela maquina maravilhosa começar a andar.
- É por causa da meia-calça. Acho.
O motorista deu uma risada silenciosa e formos para casa antes do sol nascer.

(Samuel Gois Martins) 10/3/2005

Monday, March 07, 2005

Pintinhos bastardos

Pequenos garotos brincavam se jogando. Uma brincadeira não muito esperta.
- São apenas garotos.
Aquela velhinha ria sempre falando isso quando assistia a estúpida brincadeira. Não que eu desse muita importância a todos esses fatos.
Um dos garotos se chama Charles. Onze anos e bastante merda na cabeça como principais pontos de seu currículo. Uma vez ele estuprou uma galinha, no outro dia ela pôs ovos. O idiota achou que fossem seus filhos e ate hoje esconde os pintinhos de baixo de sua cama. Ele anda por ai com o nobre porte de um homem chefe de família. Mal sabe ele que os pintinhos na verdade são filhos de seu amigo Mauricio.

(Samuel Gois Martins) 7/3/2005

Thursday, March 03, 2005

Frio na espinha

Tem uma tristeza que se arrasta entre as veias de pensamento. Quase nunca consigo sentir ou notar. Mas de alguma forma sei que esta lá. Essa tristeza tem haver com as letras apagadas entre um livro e outro que leio quando existe alguma vontade. Tem haver com o ar que forço a entrada nos pulmões e deixo escapar com certa falta de coragem. Tem haver com o medo de abrir a porta de meu quarto e encarar o que vou encontrar atrás. Quando fico com os pelos do corpo arrepiados com o vento frio da noite. E também tem os meus olhos que me encaram no espelho. Ligo a torneira, escovo os dentes, enxugo as mãos... Tudo tão mecânico quanto realmente é. A pior parte é me virar e encarar o corredor, esperando por um fantasma que me encare do mesmo jeito que os meus olhos. Tenho que dormir. Amanhã o parágrafo começa do mesmo jeito.
E sim, o fantasma esta lá, mas eu não consigo notá-lo. Da mesma forma que a tristeza.

Samuel Gois Martins (03/03/2005)

Friday, February 18, 2005

Mãe é Mãe

Arrastei o corpo para dentro da floresta. Lá não era seguro. Mas nenhum lugar era. Pelo menos na floresta.
- Gostaria muito de morrer olhando para arvores.
- Mamãe! Não fale dessas coisas!
- Qual o problema, meu amor? Não é errado falar dos últimos desejos da morte.
- Você tem 35 anos! É bonita e vigorosa!
- Não é errado falar da morte.
À noite aproxima.
O frio cresce.
- Não se esqueça de duas cobertas!
- Mas não ta tão frio!
- Nem tão escuro. Mas logo vai estar.
- Agüente firme mamãe! Você não pode morrer!
- Obrigado pelas arvores...
- Não fale besteiras!
Era só uma amiga hora bolas.
- Não me venha com essa. Eu vi como você olha para o nada com cara de peixe morto quando fala o nome dela!
Sempre odiei quando você tem razão.
Você sabe disso, às vezes ate se fazia de errada para não me desapontar.
Entraram na floresta.
O barulho.
Luzes.
Escuto-os correndo. Ela fechou seus olhos e deixa um belo sorriso para a eternidade. Será que vamos nos ver logo? Acho que você não ia querer. Certo?
- Corra para não perder a hora na escola!
- Ok!
Eu vou correr.
Bem rápido.
Prometo.

(Samuel Gois Martins) 18/02/2004

Tuesday, February 15, 2005

A mesma decadência de sempre

Foi de noite, como sempre.
Um pouco de dor de cabeça.
Como sempre.
- Tudo bem?
- Na medida do possível. Como esta o garoto?
- Melhorou em muita coisa não.
Eu deveria estar terminado de ler alguma coisa. Ela deve ter vindo pega de volta. Sempre assim.
- O que achou?
Eu respondo o de sempre.
- Poderia ser melhor.
- Não leu todo.
- Se fosse bom eu teria lido.
E pensar que trepávamos bem para cacete nesse sofá.
- Bem. Então eu vou indo.
- Mande um abraço para o pirralho.
Hoje nem para uma punheta ele seve. E na televisão só tem merda.
Mas amanhã ela volta.
De noite.
Com outro livro.
Como sempre.

(Samuel Gois Martins) 15/02/2005

Monday, February 14, 2005

Galinhas voadoras.

- Tenho uma piada nova muito boa. Quer ouvir?
Tirei a caneta da boca. Não era minha. Toda mordida e o leve sabor de tinta de caneta na boca. Foi nesse momento que escutei, e, olhei para o sorriso amarelo.
- Manda ai.
Odeio aquele sorriso amarelo.
- Por que a galinha atravessou a rua?
Realmente, uma piada nova. Deve esta esperando que eu diga “Não sei” ou “Por que?”. Não mesmo. Não para o sorriso amarelo.
Coincidentemente estávamos na rua. E a caneta já deveria ter caído no chão. Coincidentemente uma galinha estava lá. Dava quase para escutar meu cruel pensamento: “Eu te pego, sorriso amarelo... Eu te pego!”. Quase.
- Pergunte para ela.
O sorriso amarelo se transformou em olhar confuso. E logo em seguida... Olhar assustado.
- Meu deus!
Ela voou para longe.
Claro que também fiquei chocado. Mas acho que não sujou muito o carro.

Samuel Gois Martins 14/02/2005

Sunday, January 30, 2005

Lagrimas de sonho

O chão coberto de asas de borboletas.
Deixem-me em paz.
Agarro com força o cobertor, rasgo-o. E antes de recuperar o primeiro fôlego descubro que estou distante do perigo.
- Mas ainda escuto alguém chorar.
- Talvez não seja você que esteja chorando?
- Talvez. Quem é?
Ainda estou deitado, procurando com as mãos o tamanho do estrago que fiz no cobertor. Quem esta ai?
E na minha frente noto um pequeno, quase imperceptível brilho. É uma borboleta quase microscópica. Quando estou perto de desmaia devido a baixo oxigênio no cérebro costumo ver coisas assim.
- Mas não sou um sintoma de que breve vai desmaiar.
- Então o que é?
- O chão estava coberto de asas de borboletas, meu amigo. Você esperou demais.
- Talvez. Quem esta chorando?
E caio novamente num sono.

Samuel Gois Martins 31/01/2004

Saturday, January 22, 2005

Contradição

Algumas pilhas de livros atrás me lembro das cores aberrantes da camiseta que ela estava usando. Nunca fui muito ligado em moda, mas se aquilo é bom gosto dou graças a deus por estar fora de moda. Ela suspirou com honestidade após o longo gole de água. Realmente estava bem quente.
- O que você tem lido nos últimos dias?
- Na verdade cabei de comprar sete livros para suportar esse verão.
- Ta quente mesmo. Obrigado pela água...
- Só estava de passagem?
Já estou no quinto livro e esse momento não sai da minha cabeça. Assim não vou sobreviver ao verão. Devia ter gastado a grana com um ar-condicionado.
- Na verdade eu queria conversar com você...
- Fique a vontade.
No romance de Bolt, o personagem principal entrega um cálice para sua amada. Ele quer fazer uma espécie de casamento simbólico. E daí ela falou a respeito do namorado.
- O que será que devo fazer? Eu acho que não temos mais muito futuro...
A mulheres pensam demais no futuro. Essas coisas são bem comuns no romantismo, apesar de não ser lá grande fã do romantismo estou gostando do romance.
- Mas você não se sente bem com ele hoje em dia?
- Sim... Mas...
Acho que o personagem principal poderia ter um ar nobre menos forçado. Mas quem sabe isso seja alguma tipologia do personagem que poderá ser explicada no decorrer do livro. Mas...?
- Bem... Não entendo de romances.
Eu entendo muito bem de romances. Em especial dos escritos por T. Bolt. Mas definitivamente...
- Mas você sempre observou isso desde o começo. Você sabe... Digo... O que você acha?
Não gosto de romantismo.
- Eu acho que você esta pensando demais. E acho que num romance não existe lugar para cabeça e sim para coração.
Mas concordo que escritores românticos têm que pensar muito antes de escrever essas coisas. É uma arte se tratando da observação no gosto de seus leitores. A cabeça é realmente importante num romance.
- Você acha isso?
- Acho. Mas não sei.
- Como assim?
O final não foi lá grande coisa. Espero que o próximo livro compense. Ta muito quente...

(Samuel Gois Martins) 22/01/2005

Friday, January 07, 2005

Convincente

Perco-me ao observar as listras que se estampavam na camiseta dela. Talvez seja uma estratégia, tipo para não acharem seus seios. Mas mirei logo neles, isso ai, eu jogo sujo. E quem disse que eles não estavam lá? Estavam sim. E como estavam. Elevo minha mão direita.
- Prazer em conhecê-los...
- Como?
- Prazer em conhecê-la.
- Prazer... E ai, preparado?
- Quer fazer sexo comigo?
- Desculpe...
- O que foi agora?
- Você não é...O meu tipo.
- Não sou o seu tipo ou não sou bonito o suficiente?
- Bem...
- A função da beleza é apenas de exibi-la para outras pessoas. No final das contas tudo isso termina mesmo é em uma boa trepada. Então tudo que você vai aproveitar de um homem, bonito ou não, é o seu pau. Não sei se o meu é algo de lá grande potencial. Nunca o botei a prova num relacionamento a dois. Repito, a dois. Mas um cara bonito talvez também não... Então no final das contas... Por que não se ninguém ficar sabendo?
- É...
- Acho que to preparado sim. E você, ta preparada?
- Não sei se estudei o suficiente... Mas vamos ver no que da.
- Vamos sim. Hoje à noite?
- Leve a camisinha.
Que peitos, meus amigos. Que peitos!

(Samuel Gois Martins) 07/01/05

Saturday, January 01, 2005

Ilógica segmentada

Carros de policia. Chiclete na calçada. Gritos de garotas. Vestidos verdes e laranjas, todos vermelhos. Aquela risadinha. O cego toca saxofone. Taxistas cheirando cocaína. Uma velhinha e seu cachorro.
- Tem dois pingos.
- Trema...
- Como?
- É um trema! – e saca seu 38.
Bang, bang.
- Parada!
- Meu vestido!
- Você escutou alguma coisa?
- Snif. Hã?
- Au Au!
E chegou no asfalto.

(Samuel Gois Martins) 02/01/2005

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