“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””

Thursday, March 31, 2005

Geladeira peidona

- Muito bem... Quem foi?
- Eu mesmo não.
- Nem eu. Foi você, né?
- Eu?! Por que eu?
- Se não foi nenhum de nós... Só pode ter sido você!
- Grande detetive!
- Você esta sendo irônico comigo?
- Muito bem. Calma. Pode admitir quem foi... Hora bolas, ninguém vai ficar chateado...
- Isso mesmo.
- Concordo.
- Perfeitamente.
- Humhum.
- ...
- ...
- ...
- ...
- ...
- Porra! Fala logo que foi você!
- Eu uma droga! Foi você! Ou voce?
- Que tem eu?
- Isso ai. Foi ele!
- Como tem tanta certeza?
- Bem... Então quem foi?!
- Acho que foi a geladeira.
- A geladeira?! – todos em uníssono.
- Isso ai. A geladeira!
- É, uma fruta podre na geladeira.
- Realmente, tem sentido.
- Inteiramente.
- Humhum...

(Samuel Gois Martins) 31/03/2004

Sunday, March 27, 2005

Carta de amor a ninguém

Desde a primeira vez... Que eu nuca vi você. Sempre tive certeza, encontrando aqueles olhos que nunca encontrei, era você. O vento que jamais soprou batendo naqueles cabelos que nunca nasceram. O largo sorriso que nunca foi feito.
Eu ate lembro onde eu não estava. Descia uma ponte de sonhos que construí desde minha primeira reflexão negada ate o ultimo suspiro contido. E me perguntava qual seria o não rumo. Lá não estava você, sentada na beirada, apreciando o por do sol que nunca aconteceu.
E as ondas do mar que sequer bateram? Maravilhosas.
Provavelmente você não me olhou com desdém. Um cara gordo, de longe com uma aparência próxima do que chama de atraente. Claro que você nunca olharia. Da mesma forma que eu nunca olharia você. Nem se quisesse, pois você não existe. Certo?
Eu me lembro muito bem de como não me sentei ao seu lado, da coragem que não tive para fazê-lo. Da coragem que não tive para dizer:
- Oi.
E também me lembro muito bem da sua resposta nunca pronunciada:
- Quem é você?
Mas foi um quem é você de ironia, nem rancor, ou medo? Não. Não foi de uma infantil curiosidade. Inocente e bela curiosidade. E teve o que eu não respondi.
- Ninguém...
E o espanto que você não teve. Pois como era grande a coincidência.

Samuel Gois Martins 27/03/2004

Friday, March 25, 2005

Desde que me lembro

O cheiro apetitoso que revela a hora da janta. Meu pai, minha mãe, eu e tia Margarida corremos para a mesa. E também tem o cara misterioso que desde que me lembro também aparece para jantar com agente. Desde que me lembro. Ele se senta na outra cabeceira da mesa. A terceira cabeceira da mesa. Ele fala bastante, mas parece que ninguém nunca da muito ouvidos para ele. Nem eu. Misteriosamente o papo dele na ultima noite me intrigou.
“Vocês deviam provar o gelo. É maravilhoso!”.
Gelo pra cá, gelo pra lá.
“Qual gelo?”.
Os meus pais, e tia Margarida, me encararam intrigados. Mas logo voltaram a comer a torta de frango e conversar sobre políticos.
“Vocês têm que provar! Não fazem idéia do que estão perdendo!”.
“Onde posso provar?”, perguntei.
“Provar o que, meu filho?”, perguntou mamãe.
“O gelo!”.
O cara misterioso agora passava a mão sobre a cheia barriga. Ele gostou da torta.
“Na geladeira, querido. Se você quiser tem na geladeira”, concluiu minha mãe antes de virar seu roto para tia Margarida e falar alguma coisa sobre absorventes.
O cara se levantou, acenou um discreto e cômico adeus e saio pela porta da frente. Como sempre faz. Desde que me lembro. Engraçado que ele sempre saia pela porta da frente que ninguém nunca usa. Papai fala sempre que não temos uma segunda porta da frente. Mas ela esta lá. Tudo bem... Já desisti de mandar mamãe limpar a terceira cabeceira da mesa.
Sim...Não gostei muito do gelo. Talvez só tenha sabor para quem toma na terceira cabeceira da mesa.

Samuel Gois Martins 25/03/2005

Thursday, March 10, 2005

Tecido delicado

O gosto de amargura chega a ser doce quando combinado com o da satisfação momentânea.
A senhorita pôs sua meia-calça. É incrível como gosta de usar uma coisa tão descartável. Principalmente em festas como essa.
- Não é evidente que em seguida vão se rasgar?
- Ai que esta a graça, meu amor.
Escapou a ultima baforada do cigarro.
As quatro da manhã ainda podia escutar gemidos, risadas, gritos e choradeiras. O corredor tinha um cheiro incomum de humanidade decaída e cada porta parecia um novo mundo macabro. Talvez seja por isso que gosto de vir aqui. Para me acostumar ao inferno.

Lá fora o meu motorista me espera atento com seus olhos de coruja.
- Como foi à noite, senhor?
- Como todas as outras, meu amigo.
- Pelo perfume sinto que ainda visita aquela senhorita.
- Não lhe pago para ser um detetive!
- Perdoe-me, senhor. Só estranho. É a primeira vez que vejo o senhor passar mais de três noites com a mesma mulher.
Ele levanta o freio de mão e faz aquela maquina maravilhosa começar a andar.
- É por causa da meia-calça. Acho.
O motorista deu uma risada silenciosa e formos para casa antes do sol nascer.

(Samuel Gois Martins) 10/3/2005

Monday, March 07, 2005

Pintinhos bastardos

Pequenos garotos brincavam se jogando. Uma brincadeira não muito esperta.
- São apenas garotos.
Aquela velhinha ria sempre falando isso quando assistia a estúpida brincadeira. Não que eu desse muita importância a todos esses fatos.
Um dos garotos se chama Charles. Onze anos e bastante merda na cabeça como principais pontos de seu currículo. Uma vez ele estuprou uma galinha, no outro dia ela pôs ovos. O idiota achou que fossem seus filhos e ate hoje esconde os pintinhos de baixo de sua cama. Ele anda por ai com o nobre porte de um homem chefe de família. Mal sabe ele que os pintinhos na verdade são filhos de seu amigo Mauricio.

(Samuel Gois Martins) 7/3/2005

Thursday, March 03, 2005

Frio na espinha

Tem uma tristeza que se arrasta entre as veias de pensamento. Quase nunca consigo sentir ou notar. Mas de alguma forma sei que esta lá. Essa tristeza tem haver com as letras apagadas entre um livro e outro que leio quando existe alguma vontade. Tem haver com o ar que forço a entrada nos pulmões e deixo escapar com certa falta de coragem. Tem haver com o medo de abrir a porta de meu quarto e encarar o que vou encontrar atrás. Quando fico com os pelos do corpo arrepiados com o vento frio da noite. E também tem os meus olhos que me encaram no espelho. Ligo a torneira, escovo os dentes, enxugo as mãos... Tudo tão mecânico quanto realmente é. A pior parte é me virar e encarar o corredor, esperando por um fantasma que me encare do mesmo jeito que os meus olhos. Tenho que dormir. Amanhã o parágrafo começa do mesmo jeito.
E sim, o fantasma esta lá, mas eu não consigo notá-lo. Da mesma forma que a tristeza.

Samuel Gois Martins (03/03/2005)