“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””

Tuesday, November 29, 2005

Água sanitária

pés feridos - cacos de vidro - vermelho - dor - lagrimas - água sanitária

corre até o banheiro - tenta entender o que esta acontecendo - grita - chora

água sanitária

sangue

grito

choro

corre até o telefone – 3 – 3 – 4 – 6 – não – 33478801 – alô? – socorro – por favor – socorro

dor

olhos fechados

lagrimas ardendo

ferida ardendo

água sanitária

(Samuel Gois Martins) 29/11/2005

Thursday, November 10, 2005

Porta-Treco

O porta-treco cai no chão. Todos direcionam sua atenção para ele. O som de um recém-nascido chorando propaga-se no fundo. Foi assim que eu nasci. Com todos olhando para o porta-treco.
Certa época, tive 5 anos, mas não tive nenhum amigo. No meu quarto o porta-treco guardava alguns brinquedos: o boneco sem capa do super-homem, peças perdidas de um quebra-cabeça, pinos e dados de um Banco Imobiliário inutilizado. O dinheiro de mentirinha eu escondia na cama, debaixo da colcha. Olhava para aquela fortuna e pensava “estou rico!”.
Aos 12 anos descobri a Playboy. Foi amor à primeira vista. Escondia minha única e preciosa no porta-treco. Engraçado, sempre o abria imaginando lembrar de alguma pista. Só não sei o quê.
No 16 o papel com suas imagens foi trocado por células. Garotas de verdade. Uma garota na verdade. Ela era linda. E fazia tudo que eu pedia. Do jeito que eu pedia. Guardava as camisinhas em um porta-treco velho que sempre esteve em meu quarto. De todas as cores e sabores possíveis. Nessa época tive muitos amigos. Um me apresentou o álcool. Outro o cigarro. Ela dizia que acido era bom, mas nunca tive saco pra tomar comprimidos.
Um dia, com 32 anos, recebi uma ligação incomum:
- Sua mãe faleceu.
Eu trabalhava vendendo carros. Tinha todos os amigos e mulheres que poderia comprar. Passei alguns minutos tentando entender aquelas 3 palavras.Sua. Mãe. Faleceu.Procurei no dicionário por algum sentido. Do outro lado estavam confusos perguntando por “Alô?” e “Você está bem?”.
- Morta?
- Isso. O velório será amanhã.
- Ok.
Com 32 anos, dois meses, 3 dias e 4 horas cheguei à velha casa após uma viagem noturna. Claro que lembrei de justificar minha falta no trabalho e cancelei um encontro com uma acompanhante de luxo. Também lembrei de tomar um longo banho gelado, fazer a barba e escovar bem os dentes. Lá estava eu na frente da velha casa. Meu pai me abraçou chorando, minha irmã, minha tia, minha avó.
- Do que ela morreu?
- Caiu da escada.
- Quero entrar.
- Seu quarto esta como você o havia deixado.
Meu lábios moveram grunhidos disfarçados de palavra. Só não sei o quê. Eu nunca sei de nada.
Subi a escada assassina a encarado cada degrau. Queria vencê-la, como uma vingança. Fique visualizando como deveria ter sido. Entre no corredor. A segunda porta a esquerda, semi-aberta. Ou semi-fechada. O porta-treco estava no móvel de sempre. Não encontrei minhas camisinhas. Lá estava o super-homem, as peças de quebra cabeças, os pinos e dados.
Pintos e dados de um Banco Imobiliário inutilizado.
Fui até a cama com agilidade, puxei o colchão com um único esforço. Caíram lagrimas.
- Estou rico.

(Samuel Góis Martins) 10/11/05

Friday, November 04, 2005

Madeira norueguesa

- Pode sentar em qualquer lugar...

Um ou outro dia qualquer conheci alguém que me convidou para sentar. Mas em seu quarto não existiam cadeiras. Falou para sentar em qualquer lugar. Esse alguém era uma garota que eu tive. Melhor dizer que ela me teve.
Já falei que em seu quarto não havia cadeiras, então me sentei sobre o tapete. Eu ofereci minhas horas e minutos. Ela me ofereceu do seu vinho.
Era um belo quarto feito com madeira norueguesa.
- Hora de dormir...
Conversamos até as duas horas.
- Fui trabalhar cedo... Hehehe!
- Eu não. – e me arrastei até o banheiro. Para dormir dentro da banheira.

Quando acordei estava sozinho. O pássaro tinha voado. Acendi um cigarro, pensando como era boa a madeira norueguesa daquele quarto.

(Samuel Gois Martins) 4/11/2005

*versão romanceada da musica Norwegian Wood dos Beatles. Não sou fã deles, essa musica é o nome de um livro que me tocou profundamente. Então procurei pela letra. Acredito que ela tenha vários sentidos metafóricos que acarretam outros conceitos que escolhi não abordar. Não mais, acho que fico bonito.

Thursday, November 03, 2005

O código da vinci e as tartarugas ninjas

O garoto Maroto percorre correndo uma longa estrada sem fim que vai sem vírgula alguma em direção a sua casa onde existe uma casa de cachorro mágica que leva ao mundo encantado dos cachorros voadores.
Sua mãe varre o chão, calmamente, delicadamente, com um sorriso gentil, meigo, bonito. Lento. Va-ga-ro-as-men-te. Antes que pudesse mover mais uma vez a vassoura tomou posição para deter seu filho de qualquer proeza espalhafatosa. Seria isso possível?
- Parado... Ai... Mocinho...
Tarde demais. Ela pensou na ultima vez que ele fez aquilo. Cachorros voadores sujam demais!

Em outro ligar na falta de imaginação do autor tem um sujeitinho esquisito reproduzindo as obras artísticas de Leonardo da Vinci. Nada haver com o livro código da Vinci. Nem com as tartarugas ninjas. Ele escutou alguma coisa caindo sobre suas tintas e telas, destruindo tudo. Sujando tudo.
- Mas que porra?!
E olhem, era o garoto maroto todo azul, amarelo, vermelho e solvente.
- Não era para eu estar no mundo encantado dos cachorros voadores?
- O autor mudou idéia antes de você chegar lá. Deve ta jogando um monte de besteiras pra no mínimo se sentir original.
- Que babaca.
- Concordo.
E de repente uma estrada de tijolos amarelos.
- Desde quando isso ta por aqui? – assustou-se o pintor esquisito davinciano.
- Esses tijolos são ouro?
- Será que alguém reclamaria se pegássemos para nós?
- Olha, se isso ta virando referencia de O Mágico de OZ, deixa eu ver se cai encima de alguém...
E lá um par de pernas com sapatos homossexuais esquisitos debaixo da tralha de telas e tintas onde o garoto Maroto havia caído.
- Escritor de merda...
- Pega os sapatos. São mágicos!
- Já peguei. “Não há lugar como o nosso lar”, em?
- É o que dizem.
E viveram felizes para sempre com um castelo feito de tijolos de ouro roubados da estrada e sapatos mágicos cobiçados. Claro, isso até a mãe do garoto Maroto chegar por lá e puxa-lo pela orelha para fazer o dever de casa. O pintor esquisito decidiu escrever livros do tipo “alguma coisa o código da vinci”.

(Samuel Gois Martins) 3/11/2005