“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””

Thursday, January 12, 2006

Café

medicamento genérico
paracetamol
quatro unidades
falta um
a noite passada foi horrível não faço idéia do que fiz só sei que a ressaca ta grande
saio da banheira e vou até meu quarto
no meu quarto estão as mesmas roupas de sempre e sempre as mesmas roupas que visto
não tenho carro então sobra o ônibus
chego atrasado lá se vai o ônibus
duas horas esperando
preciso de café
vou para ao café mais próxima
café quero café
não temos café
não tem café em um café
não
eu quero café
gostaria de água com gás
não eu quero café
e sorvete
café
café faz mal sabia
isso é um café seu bosta
não venha com ignorância senhor sou um homem trabalhador honesto que merece respeito
café
não temos café
vai se foder
e saio da cafeteira sem café
sem café
paracetamol agora restam dois
consigo perder o ônibus de novo
merda
disco para o trabalho
tenho um celular
alô
caralho é você
sim sou eu
lembra de ontem
não
caralho
o que foi
foi foda
imagino
foi mesmo
foi
é
eu vou chegar atrasado
tudo bem se fosse eu não vinha aqui nem tão cedo
por quê
depois de ontem...
porra o que teve ontem
você não lembra
já disse que não lembro
foi foda
você já disse
você comeu a esposa do patrão na frente dele
hsg
Isso mesmo
a esposa
sim
do patrão
na frente dele
é
caralho
falei que foi foda
caralho preciso de café
volto para o café sem café
porra eu preciso de café
você de novo já falei que não temos café
porra por favor
saia do estabelecimento senhor
café
puxo um palito de dentes e aponto para o pescoço do balconista
café porra
você não pode me matar com isso
café
eu já ativei o alarme a policia esta vindo
eu quero café
parado parado
café
prendam esse maluco
saio correndo levo um tiro na perna tudo bem não gostava daquela perna
me arrasto até o ponto de ônibus
os policiais vêm atrás de mim
perdi o ônibus novamente
parado
parado
levanto minhas mãos
onde está a arma
solto o palito de dentes
puta que pariu
é um psicopata maldito
com um palito de dentes
que horrível
é desumano
desumano
eu quero café
sou preso em algemas e chutado para um camburão
eu só queria café
e lembrar se a esposa do patrão era gostosa

(Samuel Gois Martins) 12/01/2005

Sunday, January 08, 2006

E tudo começa outra vez

- Vejam!
- É um pássaro?
- Um avião?

Um suicida. O vento batendo no meu rosto, a sensação de descobrir a textura das nuvens. O sol sempre nascendo quando vou um pouco mais para o leste...

Falido. A esposa me abandonou com um palhaço de circo. Meu filho se tornou um viciado. Quais motivos eu terei para continuar vivo? A vida é uma bosta. Sempre foi. Nunca tive amigos de verdade, sempre odiei tudo que fiz, meus pais me tratam como um lixo. Provavelmente eu realmente seja um lixo.

Fechou os olhos e pulou. O vento batendo no rosto.

- Vejam!
- É um pássaro?
- Um avião?

A sensação de descobrir a textura das nuvens.

Já estou morto? Abro meus olhos. Se isso é estar morto já o deveria ter feito há muito tempo. Estou centenas de metros do chão. Voando. Belisco meu braço. Concluo que aquilo tudo é bem real. Seria uma segunda chance? Há quanto tempo posso voar e não sabia? Será que toda vida eu tinha este dom e nem reparei?
- Sempre reclamando de tudo...

- Vejam!
- É um pássaro?
- Um avião?
- Não!
- Só não vai dizer que é o super-homem né!

O sol sempre nascendo quando vou um pouco mais para o leste... E tudo começa outra vez.

(Samuel Gois Martins) 08/01/06
*nota - Originalmente é roteiro inspirado na obra Superman – Identidade Secreta, de Kurt Busiek e Stuart Immonen. Como um quadrinho permite mais de um foco narrativo acabei escolhendo manter os três focos narrativos no texto, mesmo que fique estranho.

Friday, January 06, 2006

É mulher?

A tampa do esgoto voou pra longe, de lá saiu um italiano. Pensei logo no Mario. Ele estava armado com uma lança tribal africana e gritava asneira sobre Mussolini. Eu tinha um 38 no bolso.
- Desculpe... Mas eu amo outro.
Não demonstrei nenhuma emoção.
- Você me traiu?
- Não! Eu juro que não! Por isso vim abrir meu coração para você. O respeito demais... É como um irm...
- Não diga essa palavra. Por favor.
E sai do bar.
Ai a tampa de esgoto voou pra longe. Mario africano anarquista. Mussolini. E eu doido pra matar um hoje. Tirei a arma e apontei para o idiota. Ele começa a chorar. Solta a lança no chão. Senta-se na quina da calçada e chora cada vez mais. Meu coração amolece.
- É mulher?
E ofereço um lenço para ele.

(Samuel Gois Martins) 06/01/06

Thursday, January 05, 2006

Guerra

Os patos decolaram para longe. O comandante aparentava ter herpes. O rio ondulou durante a decolagem. Por sorte não se enroscaram nas pipas. É um dia de verão qualquer em algum lugar. Onde está Juliana? Joguei uma pedrinha no rio.
Ondas. Os patos decolaram com o susto. Decolaram para longe. O comandante tinha uma plumagem esquisita, lembrando meu pai com herpes. As pipas estavam aos montes, por sorte não se enroscaram entre si. E nem enroscaram nos patos.
- Desculpe o atraso!
Juliana.
- Onde você estava?
- Estava terminando a cesta do piquenique.
- Tudo bem...
- Está preocupado com o seu pai?
- Guerra.
- E ele é o comandante...
Lembro do pato. Lembro do herpes.
- Você tem problemas com herpes, Juliana?
- Deus! Não! Eu sou virgem...
Olho bem nos olhos dela. Ela é virgem. Os olhos de uma virgem. O rio ondula. Os patos já estão bem longe. Jogo outra pedra. Mais ondas. Herpes.
- Esta duvidando de mim?!
- Não é isso. Hoje é um dia estranho.
- Como assim?
Jogo outra pedra.
Ondas.
- Sonhei com o meu pai.
- Você precisa se libertar do fantasma de seu pai...
- Mas ele pode não está morto.
- Estamos em guerra! Ele foi para morrer. Se ele voltar, ele vai estar de varias formas, menos vivo...
- Ele ainda vai ter herpes?
- Talvez coisa pior. Sabe-se lá o que solados solitários fazem nesses lugares...
As pipas se enroscam. Jogo outra pedra. Ondas.
- O comandante deve está indo para o sul...

(Samuel Gois Martins) 05/01/06

Monday, January 02, 2006

Óculos

Que mundo horrível, é o sem meus óculos. Pois foi sem eles que acabei entrando em uma selva escura, e rezei para não ter que ser salvo por Virgilio nem cair no quinto dos infernos. Na verdade cai no quarto dos infernos, o do meu irmão, cheio de pôsteres de mulheres nuas, bandas de rock e cheirando a masturbações e cigarros escondidos. Enquanto isso me perguntava a respeito dos óculos.
Na hora do almoço, mamãe serve todos os pratos com todos os temperos possíveis que provocam alergia em papai. Ela tem feito isso nos últimos sete anos. Papai fica sentado olhado para todos com cara de perdedor. Fica olhando para o prato vazio em silencio. Parece que alem de não deixa-lo comer, obriga-o a fazer sexo com ela todas as noites. Papai esta ficando cada vez mais magro e doente. Sem meus óculos ele parece apenas uma coisa branca e marrom. Mas uma coisa branca e marrom digna de pena. Isso sim. Meu irmão não veio almoçar, saiu com os amigos. Mamãe esta sorridente hoje. Deu-me os parabéns pelas boas notas e mais uma vez perguntou se sou homossexual, alegando que não possui nenhum preconceito. Informei que era neo-nazista e que não admitiria perguntas como aquelas. Ela sempre ri, acha que estou brincando. Devia olhar mais o porão. Sim! O porão! É lá que deixei os óculos!

(Samuel Gois Martins)02/01/06