“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””

Friday, September 29, 2006

O Sangue de JFK

Era aquele cheiro enferrujado, roçando as narinas, angustiando o estomago, vontade de vomitar. Ficamos escondidos por pelo menos uns trinta minutos antes de notar os primeiros sinais de movimento: ruídos mecânicos rangentes fazendo ploc ploc ploc, difícil definir mas impossível de não reconhecer.

Ploc ploc ploc ploc ploc tsc tsc ploc ploc ploc

Exatamente entre os dois tsc, após um e antes do inicio de outro, corri de um galpão para o outro, imperceptível, que nem o Batman faria.
- Lembre que isso não é hq, é prosa.
- Hein?
- Você tá narrando achando que o leitor tá vendo tudo. Já destravou sua arma?
- Fique peixe.
Eu e o pequeno esperamos muito por isso. Os malditos espiões soviéticos estavam traficando corpos alienígenas de jurisdição norte-americana. Estamos em 2007 e uma boa maioria acha que os comunistas deixaram de existir. Deixaram um caralho – tão é traficando ETs.
- Lembre de descrever os soviéticos...
- Positivo.
Os comunas eram quatro, como de costume sempre andam em grupo com aqueles casacos de pele avermelhados – provavelmente banhados com o sangue de nosso amado e falecido JFK. E todo mundo por ai com medo de terroristas árabes.

Plocplocplocploc...

- Putaqueparil!
- Formos descobertos! Tão fugindo!
- Parados!
- Strogonof! – gritou um
- Filho da puta! Respeite minha mãe!
E dei uns três tiros no bigodudo mais gorducho, logo: mais lento; logo: o ultimo a entrar no disco voador; Logo: eles fugiram, mas temos um corpo para dissecar.

Wednesday, September 13, 2006

chaleira

Fiquei sentado na borda da varanda, pensando qual a sensação de cair dali. Listando quem iria ao enterro por consideração, quem iria por hipocrisia; quantas lágrimas crocodilescas seriam despejadas, se meu pai e minha mãe se abraçariam depois de anos sem se falar. Quanto seria o custo do enterro – deixaria uma carta avisando que é melhor cremar – quem sentiria saudades depois. Por quantos dias minha mãe iria chorar por mim, e meu irmão, e meu pai, e quem mais fosse. Como seria para quem descobrisse o que é me perder de verdade. Deleitei-me, sentindo o vento frio da varanda chegando ao meu rosto. Escutei a chaleira apitando, fui até a cozinha tomar meu chá.

inverno nuclear

Era uma vez uma marionete. Daqueles de madeira, com cordinhas prezas ao corpo como os que se vê por ai. Nessa vez, não tínhamos mais ventríloquos, para dar voz ao boneco. Ele ficava pendurado, entre coisas velhas sem nome, talvez sonhando encontrar uma fada azul, tal qual Pinóquio. Talvez sonhando em ver aquelas cordas que estrangulam seus membros sumirem, de sentir calor em seu corpo, aprender a respirar e ter brilhos em seus olhos. Um dia alguns mendigos invadiram aquele lugar, assim como as coisas lá jogadas, não tinham nome. Era um inverno nuclear e tudo que fosse madeira ajudaria numa fogueira.

Monday, September 11, 2006

Conspiração do Divã

Dizem por ai que o tempo tudo cura. Não acredito nisso. Para mim o tempo é como um analgésico, ele pode até adormecer a dor, mas o problema ainda existe. Não acredito que buscar uma solução imediata para tudo – e a todo custo - muitas vezes pode ser um defeito. Arrependi-me, na vida, muito mais do que não fiz, ou deixei para depois, do que as coisas que fiz. Claro que o tempo tem sua importância, tal qual o analgésico. Mas não deixo de achar que a invenção de falar que “o tempo tudo cura” é coisa dos analistas, psicólogos, psiquiatras e escritores de livros de auto-ajuda. Afinal de contas só os procuramos quando temos algum problema há muito esquecido e não mais sentido – mas que de alguma forma está afetando as nossas vidas. Eis a grande conspiração do divã: o tempo.

Friday, September 08, 2006

Vaga-lumes e Girassóis

Há muito tempo atrás; quando sequer tinham inventado o tempo, dia e noite eram desculpa para existirem vaga-lumes e girassóis; uma tribo nômade enviou o mais velho dos mais jovens para seu rito de passagem rumo a maturidade social – batizado de Iuooi.
O jovem franzino de pele amarela, com cabelos ruivos e olhos verdes, com seu corpo nu e coberto de pinturas rituais é deixado a sós com o líder espiritual que lhe diz “Você vai enfrentar três desafios, meu jovem. Entregarás teu coração para alguém, e sera como nascer de novo. Mas depois essa pessoa ira quebrar seu coração, e sera como morrer de novo, o segundo desafio”. “Qual o terceiro desafio?”, pergunta Iuooi tremulo. “Sobreviver para que outra pessoa possa quebrar seu coração novamente.”. O garoto engoliu seco, seus testículos suavam e oscilavam demonstrando o quão tenso e assustado ele estava.
“Não fique com medo, rapaz. Todos passam por isso e boa parte sobrevive.”. “E o que acontece com quem não sobrevive?”, pergunta, por fim, Iuooi. “Torna-se um líder espiritual”, suspira o velho.