“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””
Monday, May 26, 2008
re
Pés em chama, ele saiu a correr feito um louco desvairado, pulou na primeira poça d’água que encontrou, só não contava com o fato dela ser um buraco muito profundo que o levaria para algum lugar. Entre o alivio dos pés molhados e o desespero de estar perdido, ele tirou a camiseta, rasgou e enrolou-a nos pés. Mesmo com isso doeu bastante ficar de pé. Como mencionado tudo completamente escuro. O chão era firme e plano, com a textura de uma pedra um tanto áspero. Estava molhado também, em alguns momentos escorregadio. As paredes estavam bem próximas, dando a conclusão de que aquilo era um corredor. O lugar cheirava a terra molhada. O molhado do chão atravessava as ataduras dando algum conforto as queimaduras. Ele continuou andando, tateando pelas paredes, com muito cuidado para não escorregar ou pisar em algo que representasse perigo. Pensava como diabos foi parar ali. Lembrou de sua mulher, que saiu para comprar cigarros. Era dia de limpeza, daqueles litros e mais litros de água sanitária espalhadas pelo chão com tanto afinco, do incêndio, de sair correndo, de cair neste buraco, dos pés ardendo. Provavelmente não sobrou nada da casa. Tirando as descobertas do tato, a única coisa que era possível identificar com os sentidos era um som muito fraco de gotejar no fim do possível corredor. O som aumentava, mesmo que muito sutilmente, cada vez mais adentro que ele entrava. Sentir aquela gota no rosto era maravilhoso, apesar do gosto um tanto amargo. Melhor ainda foi olhar para cima, e ver uma leve claridade. Começou, se apoiando entre as paredes do corredor, a escalar até a fonte de luz. Os pés doíam demais, e as mãos também se cortavam durante o processo. Mas não tinha outro jeito, era escalar para sobreviver. Lá encima, um pequeno buraco, do tamanho do ralo de uma pia. Ele tentou ver alguma coisa pelo buraco. Mas não conseguia compreender o que estava do outro lado. Enfiou o dedo, sentiu que o buraco podia ser esticado, antes que pudesse fazer qualquer coisa uma mão saiu do buraco e o puxou pelo braço. Ele começou a gritar, por algum motivo não queria mais sair dali, tinha se apegado ao lugar. Aquela mão era enorme, e ele era impotente quanto ao que acontecia. O próprio lugar em que se encontrava parecia querer expulsá-lo. Começou a chorar, já estava com a cabeça de fora, a luz ardia em seus olhos. Estava de cabeça para baixo, era tudo branco e luzes. Era pequenino, e o gigante que o agarrava lhe golpeou. Começou a chorar, sentindo uma dor imensa em seus pulmões. Os panos enrolados em seus pés estava como que grosso, como um cordão entre suas pernas, preso ao seu umbigo. Não sabia o que estava acontecendo. Estava completamente confuso. Só conseguia chorar. A plenos pulmões. Tudo estava turvo. “É um menino!”, escutou.
Wednesday, May 14, 2008
meme
Amarrado em uma cadeira. De cabeça para baixo, pendurado, sobre uma piscina de acido. Nadando no acido, tubarões geneticamente alterados. Estava por um fio – literalmente, um fio que estava amarrado à cadeira, muito fino e de uma resistência até agora... Louvável. Lá embaixo, um velho corcunda de cunho cientista maluco, alisando um gato sem pêlos. Como as chances de escapatória eram poucas, pensei em uma lista de coisas que gostaria de ter feito até então. Antes de qualquer coisa, gostaria de ter sido mulçumano, e tendo me casado com mais de uma mulher. Sempre me perguntei como seria ter umas três, quatro, cinco mulheres me amando e me servindo. Tudo bem, sou machista – dêem uma trégua, vou morrer já já de qualquer forma. Também gostaria de ser rico, esbanjar dinheiro por ai arrogantemente. Queria ser rico por motivo nenhum, e continuar assim até o fim de minha vida realizando todos os meus desejos de consumo imbecis. Dizem que dinheiro não traz felicidade, mas te asseguro que algumas coisas que eu pudesse comprar com ele trariam. Adoraria ter viajado para o Haiti, para me tornar aprendiz de voodoo. Sou fascinado por voodoo. Queria muito fazer zumbis. Outro sonho seria matar os zumbis. Olha, criar um exercito de zumbis, e depois com uma arma sair estourando a cabeça deles deve ser um prazer superior ao do sexo. Gostaria também de ter continuado minha carreira como ufólogo. Por mais ridículo que fosse, eu gostava, e gosto – me sentia feliz ao procurar alienígenas por ai e fotografar objetos voadores não-identificados – em meio a isso realizaria o maior de meus sonhos que seria conhecer uma alienígena mulher – fazer sexo alienígena com ela e ter vários híbridos alienígenas. Depois escreveria um livro onde um bando de imbecis comprariam fascinados. Outro sonho, de fato. Escrever um livro – até o fim. A fina linha começa finalmente a romper, meio que se esticando até o momento que encontrará um ponto critico. Um bom objetivo, também, seria fazer uma dieta de fato, para que pelo menos essa linha demorasse um pouco mais para romper. Truf, rompeu a corda. O cientista louco ri enquanto o gato mia. Os tubarões pulam para competir pela minha carne, o acido respinga e é a primeira coisa que sinto antes de tudo ficar vermelho, depois escuro.
Monday, May 12, 2008
Como Vênus morreu
Júpiter, muito cansado, dando os últimos respingos de sua urinada, suspira cantarolando pra si mesmo uma canção de ninar que sua mãe cantava. É daqueles banheiros que até o som do zíper faz eco. Fora do banheiro, em um corredor de faculdade, Vênus enrola o cabelo entre os dedos numa espécie de tique nervoso. Ela pode escutar o som de descarga, presta atenção também para certificar que ele valou as mãos, quase colando o ouvido na porta do banheiro. Os outros passam olhando com estranhamento. Desses que passam, Marte, nem liga muito – estando mais preocupado em acender seu cigarro. “Tem fogo”, ele pergunta pra um colega no fim do corredor. “Claro”. A fumaça sobe a ritmo lento até o primeiro andar do bloco, onde está Mercúrio tentando rabiscar um desenho cômico de uma cena que viu há poucos minutos atrás, onde Saturno escorregou em uma casca de banana. Essa casca de banana foi o lanche de Saturno que é um porco, bem, pelo menos é o que Terra sempre fala para Urano. Mas na verdade ela é meio caidinha por ele. Urano é gay, mas nunca vai admitir – está fazendo curso para padre pra trazer orgulho a família muito católica. Urano também estava passando pelo corredor, para ir ao banheiro, entra logo quando Júpiter está saindo, e da uma piscadela pra ele. Vênus olha feio, pega Júpiter pelo braço e o puxa para a cantina. Júpiter não gostou nem um pouco, e depois de comer com Vênus chamou Saturno para juntos quebrarem Urano. “Aquela bixa!”, eles cerram os dentes. Marcam para espancar o coitado no final da aula, no estacionamento. Foi horroroso. Terra viu tudo e passou a se odiar por se sentir atraída por Saturno. Quem a encontrou chorando pelos cantos foi Mercúrio, que para fazê-la sorrir lhe desenhou uma caricatura. Ela sorriu – mais ainda quando Urano ao denunciar Júpiter e Saturno conseguiu fazer com que ele fossem presos. Vênus não suportou a dor e cortou os pulsos.
Friday, May 02, 2008
culpa
O telefone tocou, “Ele morreu”. Foi cômico e trágico, confundi os nomes e falei para outras pessoas que a pessoa errada estava morta. Após ligar novamente para as pessoas, envergonhado e triste por ter confundido o morto. Toquei-me que a pessoa que realmente havia morrido era alguém muito importante para mim. Um amigo que conheci quando ainda era bem pirralho. E que de certo modo, influenciou muito em minha personalidade. Era um grande amigo, e que apesar de com o tempo, ter perdido o contato, um reencontro sempre era motivo de festa. Explicações, um dia estava bom, noutro estava mal. Parecia que ele sofria de alguma doença rara, não sei. Eu só sabia que o enterro seria em poucas horas. O enterro, vários rostos conhecidos, alguns que não via há anos. Pessoas que seria maravilhoso reencontrar, todas juntas. Mas o reencontro foi um enterro, onde morria o amigo, filho, irmão, namorado, neto e sobrinho. Todos choravam, menos eu. Bem dizer, só chorei quando vi a mãe dele. A cena foi demais, e com certeza não deve existir cena mais triste que uma mãe enterrando o filho. Para explicar melhor, eu não estava no enterro, e sim velório. Fiquei até quando levaram o caixão embora. Preferi não acompanhar mais. Estava me sentindo culpado, por não conseguir chorar, pela ficha não cair. Fui até o shopping, caminhei um pouco por lá. Vi um filme no cinema. No outro dia começaria meu primeiro emprego. Meu aniversario também era naquela semana. A semana correu normal. Em um dado momento a ficha de que nunca mais encontraria ocasionalmente aquele grande amigo caiu. Mesmo assim não chorei. Fiquei triste, desanimado – e me sentindo culpado ainda por não conseguir chorar. Os dias continuaram.
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