O som da grafite barato trepando com o papel me doía nos ouvidos. Talvez fosse inveja por não trepar ainda. Pelo menos o produto era uma gozada só minha. Os contornos pouco estéticos de minhas letras delineando caminho para lugar algum. Lugar nenhum. Qualquer lugar. A letras chegam a sair do papel, manchar a minha escrivaninha verde, manchar o tempo, o espaço, a luz, e fugir por debaixo da porta. Fiquei só sentado, acompanhando, curioso para saber até onde iriam aquelas palavras. Rezando para que não fossem perigosas.
- Que horror!
Mas, como bem aprendemos na vida, rezar nunca foi a mais pratica e solúvel das opções em momentos como esse. O grito parte da cozinha, provavelmente minha mãe. Ou a garota com quem eu gostaria e ter relacionamentos carnais. E ate sentimentais. Mas ai já não seria real. Seria um fruto da imaginação. Algo que ainda vai se torna palavra. Das perigosas também, acredito-me.
Solto o lápis, pulo da escrivaninha, vôo pelo corredor tirando a camisa e revelando para fora o meu emblema de camisa barata do super-homem. Definitivamente se ele existisse seria um trabalho para o carinha. Também seria super legal se eu voasse de verdade. E se a menina gritando quisesse dar pra mim. Mas sequer tem uma menina na cozinha. Foi um engano metafórico de minha imaginação narrativa. As palavras conversam com as batatas. Tramam contra mim. Pobre de mim. Criado e comedor. Frustrada criatura de pouca sabedoria. As coisas não acabariam bem.
- Odeio batata frita – rosnou o critico e frio irmão mais novo. – E essas estão horríveis!
Pretas, com cheiro esquisito. É a grafite. É o meu gozo. Não tinha como sair gostosa. E ele nem gosta de batata frita.
(Samuel Gois Martins) 4/09/05
“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””
Sunday, September 04, 2005
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