“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””

Monday, April 28, 2008

realidade

Uma colega grita. Olho até a outra ponta do escritório. Mandaram um e-mail para ela, com um vídeo onde uma cobra matava com requintes de crueldade uma criança. Ela grita baixo, lacrimeja, faz cara de horror “que mente horrível espalha isso pela internet?”, ela indaga revoltada. Eu presto atenção, concordo com a cabeça. De fato, que tipo de pessoa teria prazer em gravar um vídeo onde uma criança é atacada por uma cobra, e, em seguida, espalhar tal vídeo doentio pela internet. Mais precisamente e-mails de senhoras católicas. É um monto horroroso esse em que vivemos. Entra um outro colega na sala, como sempre num atraso médio de trinta minutos. Ele se senta ao meu lado, digo “Bom dia”, “Bom dia”, ele responde. Ele liga o seu computador. Sinto sede, pego minha garrafinha, abro a tampa e viro. Nenhuma gota sequer. Então me levanto segurando a garrafa e vou ate o bebedor. Saio da sala, sigo um corredor que no final encontra-se a maquina de xerox, viro a esquerda onde estão os banheiros e lá está o bebedor. Lá já se encontra uma outra pessoa, enchendo sua respectiva garrafa. Nunca vira aquele funcionário, e ele vestia-se como o Popeye. O marinheiro viciado em espinafre. “Se tem uma coisa que eu gosto mais do que água é espinafre!”, ele comentou enquanto terminava de encher sua garrafinha. Não consegui ficar impressionado com a afirmativa, naquele momento parecia aceitável ter como colega de trabalho o marinheiro Popeye. Não pude resistir e perguntei “Como vai a Olívia?”. Seu rosto mudou instantaneamente, parecia chateado, melhor dizendo, preocupado. “Está na clinica, não consegue se curar da anorexia”. Desejei melhoras, dei um tapinha em seu ombro e voltei para meu escritório. Esqueci de comentar que antes da sala onde trabalho fica uma secretaria – que no momento era a Betty Boop. Ela fazia as unhas. As pernas torneadas se cruzavam de forma sexy em contraste com sua enorme cabeça assobiando com encantadora voz anasalada. “Bom dia”, falei. Ela piscou para mim e continuou cerrando as unhas enquanto assobiava. Entrei em meu escritório. Lá estavam apenas pessoas comuns, fazendo seus trabalhos comuns. Sente na frente do computador, abrir as tabelas de gráficos, movimentei-me apara atualizá-las. Minha chefa entrou e chamou todos para uma reunião. Perguntei se Popeye e Betty Boop também iriam para reunião. Ela olhou para mim como se eu estivesse louco. Os outros riram, ela riu junto me chamando de brincalhão. Nos levantamos em direção a sala de reunião. A mesa da secretaria estava vazia. Na sala de reunião, todos estão parados como que pasmos, passo por eles e lá está Popeye regulando o datashow enquanto Betty Boop organizava os papeis na mesa. Como da ultima vez ela piscou para mim. Popeye sorriu e me perguntou como funcionava aquele datashow. Aproximei-me para ajudar.

Wednesday, April 23, 2008

boas intenções

Cansei das boas intenções. Foi um estralo repentino em minha mente, deixei cair à concha com sopa dentro. Esparramou-se pelo chão. O mendigo me olhava sem entender, um prato fundo sobre as mãos esperando alguma coisa – provavelmente sopra. Dei-lhe sopa então, chutando a enorme e quente panela. Ele gritou de dor e agonia, dava para escutá-lo queimando também. Todos na fila de mendigos se horrorizaram. A menina que eu queria comer fazendo atos humanitários começou a gritar – eu sai correndo, os pés estavam leves, parecia que eu podia voar – estava livre. Não demorou muito para meu rosto ser procurado pela policia. Os noticiários pronunciavam meu nome as pessoas comentavam a respeito nas ruas. Contabilizei tudo que já doei para a igreja. Centavo por centavo. Na frente da igreja uma bela estatua de São Jorge segurando sua lança contra o dragão. A lança de ferro podia ser destacada facilmente e com ela ameacei a vida do padre para arrecadar o patrocínio de minha próxima empreitada. Não estava fugindo de ninguém. Todos veriam que eu cansei das boas intenções.

Tuesday, April 15, 2008

escrever

Cheguei muito cedo ao trabalho. Este é o meu momento preferindo, o silencio. Escritório vazio, luzes apagadas, o único som que ressoa é o de meu computador processando, e das teclas batendo enquanto digito um texto. Esse barulho das teclas no silencio são o meu ápice. Lembram-me quando comecei a escrever, e sofria de insônia. Passava noites escrevendo no silencio; no escuro. As manhãs tem sido frias, o que deixa minha pele mais macia, e as teclas frias. Provoca um certo ardor. Às vezes de tão geladas alguns teclas que as pontas de meus dedos meio que grudam levemente – e a sensação de quando se soltam um do outro me faz gemer baixinho e revirar os olhos. As vezes perco o controle e dasf bhjmk uj,lkt f 7 esfrego minhas mãos sem parar sobre o teclado, sentindo os botões se contorcendo debaixo, o som intenso das teclas maciçamente por todo o escritório. Eu gemo junto, agora esfregando meu rosto sobre o monitor. O vidro da tela gerada me enlouquece, meu bafo embaça as palavras no Word. Subo sobre a mesa, abro o zíper, esfrego meu pênis sobre as teclas uhwreuoanhikHJET´PAEKE[]lomknoooonfdeojeg até o momento que não fazem mais barulho de tão meladas pelo meu sêmem. O computador goza junto comigo, terminando um texto e concedendo a visão de nosso orgasmo de palavras e dados. É maravilhoso, e o silencio...

Tuesday, April 08, 2008

Conto recortado

Eu raramente faço a bar
ba. Acho que serei demiti
do por isso. Eu rarament
e corto o cabelo. Não qu
e ele seja muito grande.
Na verdade acho que estou fican
do careca. Daí um dia senti muita coce
ira em meu queixo.
E fui, sem querer, arrancando pel
os de minha barba.
No lugar ficou um burac
o horrivel. Decidi fazer a ba
rba. Cortei o escesso co
m uma tesoura. Passei cr
eme de barberar. Raspei todo com uma lamina.
Ficou lizinho.
Decidi cortar o cabelo, e com a teso
ura e um penico. Fiz um corte penico.
Quando fui me olh
ar no espelho. Cadê meu rosto?
Foi junto com a bar
ba, e o cabelo mal arrumado. Tranfo
rmei-me em minha barba. Não reco
nhecia mais aquele individuo ali na frente.
Mas provavelmen
te ele não sera deminitdo.

Thursday, April 03, 2008

abstração

Eu tenho um amigo poeta. E todo dia, me vem com uma poesia para que eu possa opinar. Certo dia ele veio com uma que dizia:
OH
“Oh”, eu falei. O rosto dele demonstrou frustração – daquelas que os poetas geralmente tem. “Não é um Oh! É um Ho!”. Virei o papel para então poder ler o ‘Ho’. Mais uma vez o roso de meu amigo engilhou-se em frustração poética. “Você não entende mesmo, hein?! Minha poesia é um Ho de cabeça para baixo. Não consegue ver a profundidade disso?!”. Virei novamente o papel, olhei para o Oh, e li “Ho”. Ele se acalmou e perguntou o que eu achava. Eu disse que via um conto, e não uma poesia. “Como assim?!”, ele indagou. Falei que era sobre uma bola subindo uma escada. E sobre o barulho que ela provocou quando subiu o primeiro degrau. E logo em seguida, o que exclamou após pular a escada.

Tuesday, April 01, 2008

adulto

Amanheceu chuvoso, a noite passada havia sido muito boa. Eu botava pedacinhos de papel onde sangrava, após ter feito a barba. Apenas de cueca, com a cara cheia de pedacinhos de papel ensangüentados. Fui até a varanda do apartamento para ver a chuva. O Céu ainda estava sem Sol, e concluí que ficar de cueca na varanda chamaria atenção dos vizinhos. A pele barbeada ainda ardia por causa da loção e o frio. Ao voltar para seu quarto me deparei com um brilho incomum, daqueles que dão ataques aos epiléticos. Identifiquei uma espécie humanóide no brilho – como que uma mulher nua. Pensei em dizer “eu não acredito em fadas” só de sacanagem. O brilho diminuiu um pouco, e a vi sorrir. Fiquei com vergonha por estar apenas de cueca, e com papeizinhos vermelhos na cara. Mas ela estava nua e brilhando, o que permitiu me sentir natural. Falei “o que porra é você?”, para quebrar o gelo. Ela deu uma risadinha agoniada. Veio voando até próximo de meu rosto. Agora eu podia ver seus pequenos fartos seios, pernas e corpinho – bem gostosinha até. Seus olhos eram fundos, sem pupilas. E não possuía uma cor definida. Como falei, feita de uma luz que provoca ataques de epilepsia. “Não lembra de mim?”, ela perguntou. Sua voz era baixa, agradável e infantil. Nunca fui um garanhão – mas manter relações com uma fada seria o fundo do posso. “Nem um pouco. Você é um alienígena?”. “Não, seu bobo. Sou uma fada”. “Notei, tava só zoando”. “Você ainda é engraçado”. “Eu não acredito em fadas”. O rosto da fada se encheu de desespero. “Eu posso falar até ser a sua vez de cair como um mosquito. Abre logo o jogo e me diz o que você quer”. Ela tentou voar para longe de mim, mas fui mais rápido com meus reflexos de punheteiro. Ela estava em minhas mãos. Eu poderia esmagar seus frágeis ossinhos num piscar. “Quando você era criança, brincávamos juntos no jardim! Não lembra? Você era um menino bom, e me foi dado o direito de visitar o seu mundo mais uma vez – e era você que eu queria ver!”. Minhas mãos afrouxaram um pouco para não machucá-la. Lembrei de quando era criança, do jardim, e dela. “Perdoe-me...”, falei, a soltando. Ela se distanciou de mim, até a janela. Estava chorando. A chuva engrossou, e ela não tinha como sair no temporal. “Eu era um menino bom. Mas sou um adulto deplorável. Perdi minhas paixões desacreditando com o tempo. Fiz um concurso público e me afundei no mais do mesmo rotineiro e sem cores. Passei a tratar todos como objetos e posses. E eu mesmo em transformei em uma maquina sem consciência”. Ela ainda estava séria. Dizem que o mundo das fadas é tão cruel e sinistro quando colorido e singelo. Ela soltou umas palavras – provavelmente feitiços. Quando dei por mim transformei-me em uma criança novamente. A cueca desceu por minhas pernas e a operação de fimose se foi junto com os pelos pubianos. “Como punição você será meu amigo para sempre”, ela terminou.