“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””

Friday, August 26, 2005

Lembrança

A lembrança mais extraordinária com certeza foi quando me perdi em um jardim de rosas escondida no fundo do mar. Parece estranho quando falo, mas foi bem assim. Um jardim de rosas no fundo do mar. Sempre fui muito amigo de uma sereia. Grande amiga desde que me dou por gente ainda hoje me aparece com o som das ondas para conversar sobre o céu, as estrelas e musica erudita.
Mas naquele dia as coisas não foram bem começando como deveriam. Afoguei-me e perdi noção de vida. Meu corpo criou peso e afundei are os mais profundos abismos do oceano. Não posso dizer por quanto tempo estive desacordado. Acordei com um beijo de minha amiga sereia, chorando, preocupada. “Estou bem”, falei. Ela ainda chorava e me abraçou com força. “Onde estamos”, perguntei. “Parece o paraíso... Mas você está vivo” ela sussurrou em meu ouvido.
Não posso descrever tudo que vi depois. É impossível. Mas é tudo que posso lembrar que vale alguma coisa hoje em dia.

(Samuel Gois Martins) 26/08/2005

Monday, August 22, 2005

Miragem fria

Contei as gotas de chuva. Uma por uma. Ninguém estava lá para atrapalhar. Contei uma, duas, três, e a solidão tão bem me ajudou que contei todas. Trágico não conseguir sentir orgulho.
Eu o encontrei delicadamente encostado, como um boneco favorito de minha filha. Olhava a janela, estava branco e magro. Há quanto tempo estava lá?
Estava tão frio, não vestia roupa alguma. Depois de um tempo elas perderam o sentido.
Suspeito que fosse um fantasma. E pelo cheiro um cadáver.
Não consegui mover minha cabeça, pois muito pesada ela. Mas sei a sensação do nada, e tinha alguém atrás de mim, me observando, me apreciando. Não pude arrumar nada, sequer tem jantar. Queria pedir desculpas. Não consigo. Minha língua já se foi.
Daí começou a chover de novo, e meu esposo veio atrás de mim.
- Você esta pálida.
- Esta vendo aquilo?
- Onde?
Pois sumiu. O cheiro também.
- É o frio...
- A chuva mal acaba e já começou de novo.

Samuel Gois Martins (22/08/2005)

Monday, August 15, 2005

T

Existem milhares de maneiras de definir um ser humano qualquer. Mas os únicos são únicos. Seria estupidez narrativa ainda afirmar que é obvio isso. E hoje a narrativa é sobre alguém único. Não por ser mais interessante, bonito, habilidoso ou carismático que os outros. Qualquer pessoa pode ser isso tudo. É só ter dinheiro. Mas T não é qualquer um. T não tem muita grana. Inclusive trabalha para pagar seus estudos. E o que estuda? Estuda o que qualquer um estuda. Isso não torna T única. Isso mesmo: única. Alem de ser único, T é do gênero feminino. Não é bonita, posso afirmar, a conheço muito bem. Não é nem um pouco simpática, na verdade, é bem introvertida... Como qualquer um nesse mundinho de merda. Ok. Não vou rebaixar a palavrões. T foi alguém único pelo simples fato que não seria qualquer pessoa por que eu estaria de madrugada roendo musicas patéticas que ferem o cotovelo. E possivelmente não seria por qualquer uma que estaria pensando nas mil e uma maneiras de como T pensaria. E como pensa T? A parte difícil é como pensa uma mulher. A primeira etapa primordial. Ao patético caminho da perda de auto-respeito. E por isso T é única. Por ser uma mentira narrativa. Uma tentativa romântica frustrada inspirada nos próprios problemas do autor. Um pouco de desabafo cansativo e inspiração inútil. Isso é T. T de teoria do caos. T de Tudo. T de Tartaruga marinha.

Samuel Gois Martins (15/08/2005)

Thursday, August 11, 2005

Sorvete

As pessoas dispostas na rua. Um monte delas. Geralmente eu odeio isso.
- Sorvete?
- Não obrigado. Preciso emagrecer.
Mas hoje é o tipo de dia que eu tenho para poder me inspirar. A inspiração pra mim funciona com o ato de provocar minha criatividade. Provocar no sentido de irritar mesmo. A solidão ajuda. Estar entre os montes de pessoas, os seis bilhões de loucos, é o suficiente para se sentir bem sozinho. Eu bem que gostaria de poder tomar sorvete.

(Samuel Gois Martins)

Tuesday, August 09, 2005

A terceira pessoa

Meses se passam, e Ed, o grande detetive, com sua geniosa cabeça conservada em um pode de formol mantêm o mesmo olhar admirado desde seu primeiro encontro comigo. Por um momento detive-me na velha mania de fazer narrativa em 1ª pessoa. Hoje não. Hoje não. Ao lado de Ed está Jasmim. Em sua boca meu órgão sexual, quer dizer... O órgão sexual de um monstruoso psicopata.
Voltemos para o Ed. Ed, 28 anos, admirado por colegas, cheio de mulheres, saúde exemplar, mente magnífica. Ed desde criança já revelava sua genialidade como mestre dedutivo. Foi Ed que descobriu que sua mãe mantinha relações com o cara que limpa a piscina.

O garoto com sua lupa de brinquedo mais parecem um cão pastor farejando em tamanha concentração que era certeza que não seria gente grande. Gente grande não se concentra. A lupa amplia os mais inimagináveis resquícios de sujeira do chão. Mas não era bem sujeira que ele procurava. Era algo como mingau. Mas muito fedorento.
Cansado com as horas de raciocínio dedutivo para, senta e chupa o cabo da lupa. Ele tem essa mania, de chupar e morder as coisas.

Ed relembra com um sorriso no canto esquerdo da boca. A infância lhe foi muito grata. No carro com seu parceiro, dirigem-se para o lugar do crime.
- O quinto?Também arrancou a cabeça?
- É. Coisa leve – suspirou o entediado detetive.

Jasmim é uma lésbica que dava shows exóticos numa boate. Pensar em Jasmim é pensar na fantasia de soldado que ela adorava usar, ou seja, tirar aos poucos. Jasmim era muito parecida com a mãe de Ed. Por isso Ed sempre lhe pagava mais por uma chupeta. E olhe que chupeta de uma lésbica já é bem cara!

Ed quase se sentiu triste em ver seu corpo sem a cabeça. Uma boqueteira lésbica sem cabeça é algo frustrante. Ed lembra de sua mãe gemendo no banheiro com o limpador de piscina. Ela estava toda suja. Naquela época chegara a conclusão que o limpador era algum tipo de mutante. Dali só pode sair xixi! Tinha que salvar mamãe. Sorte saber onde papai guardava o revolver.

Alguém entrou em minha casa. Mas estou no porão. Sempre nos escondemos no porão. O porão é tudo de mais legal no mundo. Tente você também no porão. Olho nos olhos de Jasmim. Olho nos olhos de Ed. Meu querido meio irmão. Pois bem, não pude respeitar as regras da narrativa de 3ª pessoa. Fica pra próxima.

(Samuel Gois Martins) 09/08/2005

Saturday, August 06, 2005

Historias

- Foi quando deixei cair uma poesia do caderno.

Sou todos os olhos da humanidade,
Todos os ouvidos,
Todos os sabores.
E não posso acreditar no que estou vendo.
Não posso acreditar no que estou ouvindo.
Sou toda a esperança.
E o pecado de sonhar.
Não posso ser verdade.

Segurando o papel, ela olhou para mim com ternura. Ou pena mesmo.
“Bonito...”, ela falou.
“Rabiscos.”, respondi.
“Bonitos rabiscos.”, ela brincou.
Peguei o papel e guardei de volta em meu caderno.
“Também gosto dos sonhos.”, ela acrescentou.
“Não se arrisque tanto...”, terminei. Depois fui embora sem olhar pra trás.
- Você conta essa historia todo dia, velhote!
- E vou continuar contando...
- Não reduza sua vida a uma frustração idiota. Sei muito bem que nunca foi solitário, que foi um grande boêmio. Todas as mulheres da cidade eram suas!
- Não é uma historia sobre mulheres. É sobre sonhar.
- Mas você mesmo a desencorajou de continuar sonhando.
- É porque nunca lhe contei o que acontecia depois.
- O que?
- Eu acordava nesse asilo de merda.

(Samuel Gois Martins) 06/08/2005