Passou o dia andando, pra lá e pra cá. Era o dia mais quente do ano, e seu rosto estava avermelhado, fritando. Os olhos estavam tristes, escondidos por baixo da cabeleira. Também devia cortar o cabelo, deixar umas cartas e pagar contas naquele dia. Funcionava como um robô, sem pensar demais, apenas processando e organizando o que tinha de ser feito naquele dia. Andando lentamente, para gastar o máximo de tempo que pudesse.
Cada vez mais o rosto dele fritava.
Suor inalava um fedor incomum, como se estivesse completamente podre por baixo da pele. Já passavam das seis horas, e para demorar um pouco mais pegou o ônibus que mais rodaria a cidade. Naquele dia não havia porteiro, e esquecera a chave de propósito. Ficou encostado, esperando até que alguém chegasse para abrir a porta. Passou uma pessoa, perguntou se ele ia entrar; respondeu que não. Decidiu que esperaria sua mãe.
A mãe perguntou se ele estava bem, lhe entregou algumas sacolas e subiram o elevador. Ele ficou calado; esperando a mãe reclamar que ele deveria tomar um banho. Ela reclamou e ele foi tomar um banho. Seu rosto ardia com a água caindo. Ardeu muito mais suas lágrimas salgadas: caiam discretas enquanto tentava dormir.
No outro dia acordou e viu seu rosto todo marcado e ardido onde desceram as lagrimas. Como uma maquiagem borrada na pele, revelando o que estava podre por trás. Aquela ardência o lembrou de sua tristeza por alguns dias.
Quando o rosto estivesse normal poderia fingir que estava tudo bem.
“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””
Saturday, December 09, 2006
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3 comments:
Que triste. Ele precisa de alguma motivação, ou vai perder muito tempo da vida. :/
muito bom, sério e sóbrio. gostei.
a última frase foi o ponto alto. todos nós vivemos tentanto mostrar que sempre está tudo bem. o jeito eh fugir das lágrimas, que marcam a pele e nao nos deixam mentir.
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