“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””

Saturday, December 01, 2007

assim

Estava naquela mania feia de equilibrista de cadeira de escritório, pra lá e pra cá. Pisquei e já estava no chão, com traumatismo craniano, morto.

Todos no escritório estavam tão concentrados que meu ultimo dia de vida foi bastante despercebido. E só quando a redatora, ao reclamar do cheiro pediu para aumentar o ar-condicionado, mexeu a cabeça de relance – o suficiente para perceber que não estava de frente ao computador, e sim deitado no chão, com a cadeira e sangue. Ela começou quase que rindo e dizendo “eu falei que ficar balançando na cadeira daria nisso!”, mas quando notou o sangue já ressecado atraindo mosquitos soltou um grito de pavor. Meus outros colegas de trabalho se viraram, gritaram também. O faxineiro entrou correndo na sala, me viu, e também gritou.

Acho que todos da empresa gritaram neste dia. Depois chamaram uma ambulância, apesar de já ser tarde demais. Depois dos gritos tudo até procedeu rapidamente e meu velório no outro dia fora tranqüilo. Apesar de ter pedido para ser cremado fui enterrado no tumulo da familia, junto do da minha irmã mais nova falecida. Enquanto era enterrado sentia-me frustrado, sou gordo, abuso do açúcar e poderia ter morrido por algo assim pelo menos. Pelos meus vícios, diria. Se bem que balançar na cadeira poderia ser julgado como um vício, acho. O dia estava chuvoso. Parece que são sempre assim em enterros. A terra estava úmida e soltava um cheirinho gostoso de grama com terra molhadas. Estava muito escuro dentro do caixão.

Um tanto sufocante também.

Thursday, October 18, 2007

valeu a pena

Foi um pouco depois do almoço. Eu estava na mesa, e a garçonete vinha para limpá-la. Rabiscava no guardanapo. Enquanto passava o pano na mesa ela perguntou “você desenha?”, virei o rosto para responder. Mas na cheguei a ele. Fiquei preso no decote, olhando estupefato para encontro perfeito daquele abençoados par de seios. “Hein”, ela falou. Meio que despertei, falei um sim miúdo, ela sorriu com maldade.
“Quer desenhá-los?”
“Meu Deus do céu. Sim”, não pensei nem duas vezes. Ela se agachou um pouco mais, para que eu pudesse vê-los. Rabisquei freneticamente, tentando conter meus gemidos, me sentia me masturbando. Riscava com tanta força que rasgava o pape e arranhava a mesa, a testa suava, e ela lá, ofegando leve, esperando o produto final. Gozei com o ultimo rabisco, ela puxou rápido o desenho e o enfio entre as pernas, fundo. “Depois você pega de volta”, sussurrou em meus ouvidos e saiu para limpar as outras mesas.
Chequei para ver se tava muito aparente na calça. Não. Corri a passos curtos e ligeiros até o banheiro. Tirei as calças, puxei quase todo papel higiênico, pus a limpar meu pau. O cheiro de porra alastrou-se pelo banheiro e impregnou-se em mim. Sentei na privada, ciente que não tinha mais jeito, olhei o relógio, quinze minutos para voltar ao trabalho. Toc toc. “Ocupado”, respondi.
“Sou eu.”
“Puta merda”, destranquei o banheiro, ela entrou. Fungou o cheiro, sorriu. Sentou em meu colo, começamos a foder. Não sei bem, sentia uma dor estranha na ponta de meu pau, tudo bem, tava bom demais, com ou sem dor. Dava até mais prazer. Trepamos os quinze minutos que faltavam para o trabalho. Ela me beijou, piscou, saio do banheiro. Quando me toquei meu pau sangrava, todo cortado. Lembrei do papel que ela enfiou entre as pernas. O pau sangrava muito, sujando a calça, cueca, tudo. “Valeu a pena”, pensei comigo.

Tuesday, September 18, 2007

por acaso

Os dois se conheceram numa palestra sobre cinema. Notaram-se durante indagações sobre o expressionismo alemão. Ela achou o comentário dele extremamente ultrapassado, mas com um charme que só as pessoas ultrapassadas costumam ter. Ele a estereotipou pela roupa na primeira vista. Mas provavelmente foi a primeira vista de estereotipassão mais longa já feita na vida dele. Quando a palestra terminou, os grupinhos e panelinhas se formaram no corredor da saída, todos expondo aquele amplo conhecimento sobre cinema que todos que querem aparecer nesse ramo demonstram possuir. Ela de provocação criticou a opinião dele. Ele, claro, se sentiu provocado. E apontou suas hipóteses.
Ela não queria saber de hipóteses. Ela é do tipo que acha e pronto, e se não gostou azar. Menina geniosa. Os dois acabaram sozinhos naquele debate sem propósito. Simpatizaram-se, trocaram telefones e e-mails – foram para suas casas.
Daí se passou meses, e cada um viveu sua vidinha. Nunca mais pensaram um no outro, senão por acaso, vez por outra, por segundos, e milésimos de segundos. Mas então, aconteceu que na carteira dele, socada lá no fundo, um papelzinho com um e-mail chamou atenção, e ele sem saber quem ou de onde simplesmente cadastrou em seu chat para desvendar o mistério.
Por sorte, quem sabe, ela estava na internet, pesquisando sei lá o quê, viu o estranho aparecendo em seu chat. Ela fez : “quem é você?”.
”Sou eu, e você?”
“Eu”.
E assim deletaram logo em seguida os contatos um do outro.

Tuesday, September 04, 2007

profecia

Uma mesinha frágil, com copo seco há uns dias, porta lápis cheio de tesouras e réguas mas nenhum lápis, impressora quebrada, boneco do Batman brinde de um ovo da páscoa, telefone fora do gancho, grampeador sem grampos, escritor sem idéias.
Ele fica em um quartinho, daqueles bem clichês escuros dos escritores isolados e sem dinheiro, com provavelmente cheiro de cigarro, bebida e testosterona sedentária fortes. Fazia muito tempo que ele não dormia, e ele nem lembra quando foi que entrou no quarto para escrever – jurou sair só quando terminasse seu romance. Na metade da primeira página a trama se desvinculou das primeiras idéias descritivas e transformou-se numa ficção de surreal desdobramento. A lâmpada da luminária desenroscou-se lentamente continuando acesa – e brilhando cada vez mais. A lâmpada criou vida, e inclusive falou “Sou um anjo enviado por deus do mundo das idéias”. O escritor antes de qualquer coisa pensou a respeito da cafonice que seria um anjo em forma de lâmpada representando o mundo das idéias em seu livro. Depois ele se assustou, ajoelhou e gritou por piedade. A lâmpada flutuando por mais que brilhasse não iluminava o quartinho, fazendo parecer um enorme espaço negro sem fim. Ajoelhado o escritor puxava com a mão direita a bermuda que deixava escapar o cofrinho e com a esquerda fazia sinal da cruz. “Palerma, é com a direita que se faz sinal da cruz”, exclamou a lâmpada angelical. O escritor chorava de medo e desespero se perguntando se já estava morto ou iria começar em algum momento. “Não sou anjo deste Deus, palerma. Sou do mundo das idéias, idealizada por Sócrates”!
“Platão”.
“Que seja!”.
Bem na hora da quebra de parágrafo, pensou o escritor. Pouco antes da metade da primeira página de seu livro perdeu o fio da ninhada. Poderia ter vindo uma musa sensual, e não uma lâmpada fluorescente. O escritor segurou sua incontinência urinaria, encheu seu coração de coragem e perguntou “o que você quer?”. A lâmpada então sorriu. O escritor viu pela primeira vez uma lâmpada sorrindo – e ninguém mais sabe como é além dele. Sorriu e falou “Estamos com discos voadores poparts espalhados por esse planeta, e finalmente dominaremos o mundo como temia seu velho filosofo”.
Aquilo era mais do que filosofia, era ficção cientifica descabida misturada com religiosidade e noções básicas de filosofia e arte extremamente mal estudadas.

Tuesday, July 03, 2007

reunião

Suas pernas eram lindas. Soberbas. Descruzou e cruzou de propósito. Estava sem calcinha, aquela vadia. Ascendeu um cigarro, bebericou o whisky.
- Você fuma? – ela perguntou.
- Não, nem bebo. Mas pode ficar a vontade. Não me incomoda a fumaça.
Embaralhei as cartas de varias formas possíveis para passar o tempo. O gosto de fumaça entrou pelo nariz e secou a garganta. Faltava a chegada de Bob.
- Você é o que dele mesmo? – perguntei.
- Ex. A que sobreviveu aquele maníaco.
Exagerada. Todas elas. Bob é um filho da puta, e as mulheres adoram os filhos da puta. Lembro-me quando Bob comeu a gatinha da sala em plena quarta serie. E depois a professora. Era horrorosa, foi uma aposta. Já fazia duas horas desde o horário marcado. Fazia anos que ele não ligava pra mim.
- Aló?
- É o Bob.
- Há.
- É.
- Hum.
- Escuta, preciso falar com você.
- To sem grana.
- Não é isso. É muito importante para mim. Naquela lanchonete que dizem assar ratos. Como quando éramos garotos.
- Hoje em dia é uma Mcdonalds.
- Isso. Na Mcdonalds ás três da tarde. Conto com você. Clic.

- Você tem fogo?
- Hum?
- É que acabaram meus fósforos.
Ela até que era bonita de rosto também. Bob é um canalha filho da puta miserável.
- Já falei que não fumo.
Ela olhou feio pra mim, deu fim a sua bebida num gole só. Depois soltou um arroto.
- Desculpe.
- Tudo bem.
Depois de mais uns quinze minutos ele chegou. Estava acabado, com óculos escuros remendados. Circulou pela lanchonete como que fingindo que não nos avistara, depois com o cinismo que lhe é sempre atribuído abriu os braços sorrindo exageradamente.
- Docinho!
- Seu merda.
- Meu chapa!
- Já falei que to sem grana.
Daí ele puxou uma cadeira, sentou que nem um texano metido e contou uma história extraordinária sobre andar pelo deserto por semanas, visões espirituais, alienígenas viciados, entre outras coisas absurdas. Deus sabe como aquilo tudo era ridículo, mas é raro ver sinceridade nos olhos de Bob como naquela hora.
- Tudo bem Bob, toma dez pratas.
- Obrigado cara!
- Meu docinho, quer dormir no meu apartamento hoje?
- Já disse que te amo meu amor?
O casal de pombinhos foi na frente. Fiquei mais um pouco na lanchonete, pedi um hambúrguer. E adivinhem só: quando abri o sanduíche para por ketchup tinha um rato tostado lá dentro.

Tuesday, May 29, 2007

Drinking Dog

Ele tinha uma cachorra alcoólatra, e nunca soube seu nome. De tão bêbada só gemia e soltava um latido fino que indicava constante ressaca. Entendia muito de cinema, e sua principal atração era os filmes expressionistas alemães. Perdeu a virgindade com apenas oito anos. Uma cadela vira-lata, jogada no sofá vendo televisão. Tinha que tomar cuidado para não escorregar nas garrafas que ela deixava jogadas pelo chão. Eu era um escritor, ninguém nunca lera o que escrevi. Nem nunca publiquei. A única pessoa que conhecia era a cachorra para quem eu lia os contos em voz alta. Ela nunca deu uma opinião formada. Mas acho que se continua jogada do meu lado enquanto escrevo, ao menos não é insuportável. Às vezes quando as idéias não viam discutíamos literatura, cinema e coisas que os universitários de comunicação fazem para fingirem que possuem algum conteúdo. Ela, por ser uma cachorra, não podia fazer curso superior. Mas lia tudo que podia, e entenda muito mais de antropologia que qualquer professor que já tive.
Um dia cheguei em casa, e a cachorra estava deitada de barriga para cima, com os olhos muito vermelhos de tanto chorar. O telefone estava fora do gancho. Peguei-o para escutar quem estava do outro lado. Estava em algum tipo atendimento de apoio para alcoólatras. Ela queria ir para o AA, e queria fazer um documentário sobre isso. Seria um sucesso o documentário sobre a cachorra cineasta alcoólatra tentando abandonar a bebida. Uma inspiração para todos os outros caninos viciados.

Wednesday, April 25, 2007

minotauro

Tem livros empilhados.
Até o teto, parecem pilares que o sustentam. O quarto é pequeno, mas os pilares criam caminhos mofados e escuros que fazem com que me perca facilmente. Tudo é tão colorido, com capas vermelhas, verdes, azuis, desenhadas, de couro, papel. Com marca textos enfiados, de pontas tão afiadas que meu corpo está cheio de cortes. Os cortes pingam sangue, e já faz tantos litros pingados desde que comecei a empilhar que o chão é todo vermelho. O cheiro é acre, misturando sangue coagulado, poeira, livro novo, suor, fezes e urina. Perdido entre os corredores de livros não é possível achar um banheiro. Ele ainda nem começou a ler direito o primeiro. Mas seu vicio o trancafiou assim. Num cenário tão assustador quanto um pesadelo cinematograficamente cafona. “É tudo culpa da vida acadêmica”, ele comenta para os visitantes perdidos em algum lugar nesses corredores e pilastras. Ele é como o Minotauro: preso e guardião.

Tuesday, April 24, 2007

amor

Sua namorada uma vez deu uma idéia:
- Por que não usa a cachorra que te dei?
Ela era uma menina normal, ele nunca imaginou uma coisa como essas.
- Que coisa nojenta! Isso é doentio, amor!
- Se você por uma camisinha e fechar os olhos, aposto que nunca iria notar a diferença.
O assunto era sexo oral e as maneiras que ela inventava para ele sempre pensar nela. Era uma menina adorável, mas com algumas idéias bastante estranhas. Foi trágico o dia que ela morreu, atropelada por um carro de som. Ele ficou tão deprimido, triste, desesperado. Era seu grande amor. Sua fonte de sexo fixo. Louco de tanta tristeza, não foi surpresa o que ele pensou quando sua cachorrinha veio consola-lo. Tateou uma camisinha na carteira e o fez.

Friday, January 26, 2007

Musical

”Hoje de manhã cedo. Quando você bateu na minha porta. Eu disse olá, Satan, acho que é hora de ir". Essas palavras não eram de Bob – eram da música quando ele chegou no bar. Mas eram palavras de comprimento do próprio bar falando “Boa noite, Bob. Entre, por favor, beba, fique a vontade, dê uns tragos, ame minhas mulheres por mais uma noite”. E Bob respondeu “Obrigado, claro, uma bebida barata, por favor. Mulher venha aqui, uma bebida para está mulher; sorria mulher, hoje é um bom dia e será uma boa noite”. E no ritmo das palavras de Bob, a porta fechou rangendo e mesclados com aquele velho Jazz pareciam uma musica só. Aquele Bar era uma velha canção de ninar para Bob quando ele queria dormir em grande estilo.

Friday, January 19, 2007

trec, trac,

Havia algo mágico no condomínio que moro: por não termos porteiros cada um tinha de carregar suas chaves. O que nunca acontece na vida real. Então era aquela coisa: esqueci a chave, fico lá embaixo, aparece alguém do prédio que abre. Começam aquelas conversas do tipo “ta quente hoje, hein?” e coisa e tal. Em 20 anos de vida, esse foi o prédio mais social que morei por causa disso. Dai botaram os portões automáticos. Era só interfonar que lá de cima aperta-se os botoezinhos, trec, trac, abriam os dois portões que separam os gatunos do elevador principal. Acabou aquele fenômeno social: ninguém mais tinha oportunidades de falar do calor e “coisa e tal”. Nem lembro mais do rosto de meu vizinho (que desconfio ser homossexual – nada contra é claro). Acabou a sociabilidade e as chances de trocar algumas palavras com aquela menina bonita do andar de cima. Poderíamos até ter nos casado, filhos etc. Mas não da mais devido aos benditos portões automáticos.