Eu estava perdido em uma floresta.
Daquelas que nos perdemos em sonhos e pesadelos, com folhas verde-escuras, um céu tragado por nuvens nubladas, sons dos mais diversos ligares que valem apenas de susto.
Mas tinha um nativo.
- Você conhece um atalho?
- Talvez.
- Como talvez?
- Vai depender dos seus olhos.
- Meus olhos?
Ele correu ente as matas. Como seguir? O lugar gira.
Gira.
Então deixarei as matas me tragarem como o tragaram? É o único jeito? Talvez, em? Talvez. Foram folhas largas, aquelas folhas.
Por onde ele foi?
Foi por ali.
Escolhi fechar os olhos e não encarar as descobertas do outro lado.
Como na vida.
Ele me esperava do outro lado.
- Talvez?
- Talvez.
- O que é agora?
- Já viu onde você esta?
- Na areia movediça.
- Então?
- Vou me deixar afundar. O que tenho a perder?
- O que poderia desvendar mais?
- Apenas charadas.
- É isso que você acha?
- Não vivo charadas.
- Então vai morrer?
- É uma certeza. E não uma charada.
- Tem certeza que vai morrer após isso?
- Vamos esperar para ver.
O suor escorria por sua testa. Preocupado? Com o que?
Por que me olhas aflito?
A areia já esta na cintura.
Ele pegou um galho, aproximou de mim.
- Venha.
- Por quê?
- Você pode fazer mais do que isso.
- Apenas estou indo contra o padrão.
- Qual será o verdadeiro padrão? Venha.
- Como assim?
- Eu ou a areia?
- Você é o nativo.
- O nativo que habita seus sonhos.
- Sim...
- Essa areia, sonho. Entende?
Observei a areia. Estava me misturando com ela. A tinta de minha existência se desbotava e misturava com o marrom.
Tragado pelas matas? Tragado pela areia?
Tragado por mim?
Peguei no galho. O nativo sorriu.
Agarrei com força. O nativo me puxou. Sentia-me sair. Mas alguma coisa ficou lá.
Segurei com força
A caneta estourou.
Olhei anotações manchadas sobre a prancheta. O quarto esta girando. O lugar...
Gira.
- Alguma coisa ficou.
(Samuel Gois Martins) 25/10/04
“o governo e diversas multinacionais pagam os alienígenas cabeçudos para bombardearem em nossas mentes propagandas e publicidades subliminares””
Monday, October 25, 2004
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